sábado, 22 de junho de 2013

Todo mundo está saindo no braço.


Estou bastante cansado. Cansado da guerra que me rodeia, da angústia e da maldade que jorra pelos poros desta civilização decadente. Sejamos francos: estamos todos com a paciência mais do que esgotada. É escândalo após escândalo, CPIs que não dão em nada e taxas elevadas à revelia e sem respeito pelo trabalhador que está ralando para dar conta do leite das crianças. Sentimos raiva de qualquer pessoa. Nem Deus escapa: ficamos impacientes com ele por deixar tantas obras carnais e exploratórias acontecerem em nome de Jesus. Vivemos os tempos que foram previstos pelo Mestre:

Tudo isso será o início das dores. Então eles os entregarão para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados por todas as nações por minha causa. Naquele tempo muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros, e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até o fim será salvo. (Mt 24.8-13)

“Início das dores”??? Eu queria que fosse o fim delas! Mas, pelo que vemos, a maldade ainda tem muito fôlego – muito mais do que gostaríamos que tivesse. Veja para onde tudo isso está nos levando: traições, ódio, falsos profetas, engano, maldade. E, como resultado, o amor de muitos esfria.

Não nos tratamos com educação. Não dialogamos com o próximo de forma respeitosa. Temos mais prazer em ter razão do que em ajudar alguém a enxergar o seu engano. Temos raiva de quem discorda de nós. Temos ódio de quem se recusa a dar o braço a torcer. A gente até torce com força, mas isso não parece ajudar as pessoas a raciocinar direito. Bradamos nossos argumentos com um fel assustador. Ofendemos pelas nossas colocações. Não faltam oportunidades para descontar no próximo. E, se elas não surgem naturalmente, nós as criamos.

Somos de fato uma civilização em franca decadência. Como posso afirmar isso? Se você analisar a história das civilizações verá que sempre há duas fases distintas mas comuns na trajetória de uma sociedade, seja ela antiga ou moderna, babilônica, romana ou globalizada (ou, como costumo dizer, “americanizada”): um período de formação e apogeu e outro de decadência. Via de regra, essas duas fases apresentam as mesmas características na caminhada de qualquer civilização.

A etapa de formação e apogeu é sempre marcada por uma surpreendente hegemonia de ideias. Os valores são compartilhados. Todos se entendem. Há uma certa pax romana no que diz respeito ao intercâmbio entre os cidadãos – são “compadres culturais”, por assim dizer. É fácil nesse momento da vida de uma civilização ir e vir e falar e ser entendido – porque todos valorizam praticamente as mesmas coisas. A história de cada indivíduo é parecida, embora muito pessoal, por ser norteada por valores em comum.

Já na fase de decadência, tudo segue em sentido contrário. As palavras, embora comuns a todos, não significam mais a mesma coisa. A comunicação se torna cada vez mais difícil, até chegar a um efeito “babel”, no qual ninguém parece se entender. É paradoxal que nunca tivemos tantos meios para nos comunicar como no mundo de hoje, mas, de igual modo, nunca tivemos tanta dificuldade de nos entender.

O tecido da nossa cultura depende de entendimento, de “estradas” de comunicação pelas quais todos podem transitar sem ficar esbarrando uns nos outros. Mas esse tecido está sendo esfacelado: não nos comunicamos mais e o discurso parece ter morrido. O que sobrou é propaganda. Como disse o filósofo francês Jacques Ellul, “a propaganda é o mal da nossa geração”. Propaganda substitui e ridiculariza o diálogo. Bate na mesa. Bate no peito. Derrama uma lágrima. Manipula emoções. O indivíduo racional e ponderado parece um chato pedante. Parece alguém da era dos mil réis – um dinossauro cultural. “Volte para a sua biblioteca, vovô. Mande-me um e-mail e pronto”.

Pois é. Estamos assim, agressivos, gritando. Pior: sem nenhum amor. Nos tornamos impiedosos, impulsivos, ofensivos, desrespeitosos, preguiçosos, briguentos e intragáveis.

Temos que parar. Eu tenho que parar. Você tem que parar. Temos que tirar as luvas de boxe. Temos que esfriar a cabeça. Temos que desligar os meios de comunicação que estão nos imbecilizando. Temos que carregar um livro conosco em vez de ler a revista Caras. Temos que pensar um pouco. Temos que orar mais. Temos que orar. Temos que… bem, é isso.

E, quando nos acalmarmos, vamos conversar. Com a Bíblia aberta e o coração em paz, vamos falar da Trindade; da fé; do calvinismo; dos dons do Espírito; da interpretação da passagem bíblica A, B ou C; da missão; da Igreja; e de mil outros assuntos que precisam ser tratados. Precisam mesmo! Temos que fazer algo! Pois as colunas da nossa civilização estão desmoronando. Enquanto Roma pega fogo, os bárbaros fazem seus reality shows.

Já sei, estou misturando todas as minhas referências – antigas e novas – e fazendo uma sopa da desordem que nos cerca. Mas é isso mesmo que está acontecendo. Estamos chamando debem o que é mal. Elegemos criminosos. Vegetamos em frente à telinha. Estamos aplaudindo os que nos fazem de palhaços. Estamos perdendo a paz e ficando com o Q.I. de um quiabo.

Os anjos choram. Será que é tarde demais? Minhas súplicas ao Senhor são para que não seja. Queira Deus que não seja tarde demais! Mas parece que é o início das dores mesmo…

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