quarta-feira, 29 de maio de 2013

Misticismo cristão no idade média.

Francisco de Assis é um dos maiores representantes
do misticismo cristão medieval

O vocábulo misticismo significa: "Crença religiosa ou filosófica dos místicos, que admitem comunicações ocultas entre os homens e a divindade. Aptidão ou tendência para crer no sobrenatural. Devoção religiosa; vida contemplativa. O lado misterioso de qualquer doutrina. Misticismo cristão: o desapego de si mesmo por amor a Deus."[1], nos dias atuais este termo está depreciado principalmente por causa das práticas da Nova Era, mas que não encontram fundamento na mística tradição cristã clássica, praticada quer por católicos, ortodoxos ou protestantes.

O misticismo cristão visa aprender as verdades espirituais que são inacessíveis por meios intelectuais e que só podem ser alcançadas por uma vida de comunhão direta com Deus, "através de profunda oração (ou seja , meditação, contemplação), envolvendo a pessoa de Jesus Cristo e o Espírito Santo. Esta abordagem e estilo de vida se distingue de outras formas de prática cristã, o seu objetivo é conseguir a unidade com o divino, geralmente por aprender a pensar como Cristo."[2] O alcance desta comunhão depende ainda de obras de amor.

A tradição do misticismo cristão é tão antiga quanto o próprio Cristianismo em si, e está fundamentada principalmente em três textos do Novo Testamento. O primeiro é Gálatas 2.20: Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Aquela vida que agora vivo na carne vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.

O segundo é 1 João 3.2: Amados, agora somos filhos de Deus, e não está ainda manifesto o que havemos de ser. Sabemos que, se ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos como ele é.

O terceiro é 2 Pedro 1.4: pelas quais ele nos tem comunicado as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina, tendo escapado da corrupção que há no mundo pela cobiça.

O misticismo cristão possui dois grandes objetivos: a identificação completa com, ou imitação de Cristo, para alcançar uma perfeita unidade do espírito humano com o Espírito de Deus e também a visão perfeita de Deus em que o místico busca uma experiência com Ele.

A principal preocupação do misticismo cristão é a transformação espiritual do homem através de um "caminho destinado a produzir mais seres humanos plenamente realizados, criado à imagem e semelhança de Deus, e como tal, vivendo em comunhão harmoniosa com Deus, a Igreja, o resto da humanidade, e toda a criação, incluindo a si mesmo. Para os cristãos, este potencial humano é realizado mais perfeitamente em Jesus, precisamente porque ele é Deus e Homem e manifesta-se em outros através da sua associação com ele (...). O Oriente cristão fala desta transformação em termos detheosis divinização ou, talvez melhor resumida por um aforismo antigo geralmente atribuído a Atanásio de Alexandria; 'Deus se fez humano para que o homem pudesse tornar-se Deus' " [3]

No ápice da Idade Média (séculos XIII ao XV), a igreja se encontrava com a maioria das práticas litúrgicas, incorporadas do paganismo, já institucionalizadas dentro da estrutura eclesiástica. A liturgia é realizada em uma língua desconhecida, o latim, os fiéis estão sujeitos a uma hierarquia institucionalizada estranha à Bíblia, e que está mais preocupada com o jogo de poder do que com a situação espiritual dos fiéis. Os que se aprofundavam no estudo da Palavra, se isolavam em monastérios, possivelmente desencantados com o estado da igreja, e deixavam os fiéis sem instrução.

Paralelo ao isolamento do monasticismo, surgiu também no seio da igreja, através de vários intelectuais, o escolasticismo, que pode ser definido como um período da Idade Média em que surgiram inúmeras obras que apelavam para a razão humana, na tentativa de harmonizar a teologia com a filosofia e procurando demostrar as verdades teológicas de maneira racional. Estes pensadores procuravam restaurar o cerne doutrinário da instituição mas erraram em depender ao extremo do racionalismo. Nomes como Anselmo (1033-1109) e Abelardo (1079-1142) são considerados como co-fundadores do movimento; Pedro Lombardo (+/- 1164) um representante importante e Tomás de Aquino (1227-1274) o seu expoente máximo, com o seu tratado Summa Theologica. João Duns Scotus (1226-1308) e Guilherme de Ockam (1280-1349), são também escritores importantes deste período.

No outro extremo do escolasticismo temos o desenvolvimento místico no meio do isolamento monástico, procurando um afastamento do racionalismo escolástico, muitos passaram a escrever obras puramente devocionais, desejando se afastar das agruras deste mundo tentavam ter uma aproximação imediata com a pessoa de Deus, tinham por objetivo de atingir a certeza da salvação não pela dedução lógica, mas pela experiência. A igreja medieval nunca considerou os místicos como hereges, pelo contrário, até os encorajou, como um contra-ponto ao escolasticismo. Devido a subjetividade de seu caráter, o misticismo enfatizou além de uma postura pessoal de devoção, a questão dos sonhos, visões e outras formas de revelação que seriam utilizadas por Deus de forma paralela as Escrituras.

O misticismo cristão medieval deu a oportunidade de liderança religiosa para muitas mulheres, que tinham estado bloqueadas pela igreja institucional dominada por homens. Francisco de Assis, Clara de Assis, Antônio de Lisboa, Domingos de Gusmão, Catarina de Siena, Tereza D'ávila e João da Cruz, são alguns representantes deste movimento.

Notas:

[1] MICHAELIS; Dicionário Prático Língua Portuguesa, Melhoramentos, 2001 São Paulo, SP
[2] Disponível em wikipedia.org, acesso em 30/04/2010 às 11:37
[3] Id, ibid.

Referências Bibliográficas:

ANDRADE, Claudionor Corrêa de; Dicionário Teológico, Nova Edição Revista e Ampliada e Suplemento Biográfico dos Grandes Teólogos e Pensadores, 15ª ed., Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, Rio de Janeiro, RJ.

Bíblia Sagrada, Tradução Brasileira, Edição com Referências, Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, Barueri, SP.

Nova Enciclopédia Católica, volume XII, 1969, Renes, Rio de Janeiro, RJ.

NICHOLS, Robert Hastings; História da Igreja Cristã, 13ª ed., Cultura Cristã, 2008, São Paulo, SP.

PALMER, Michel D.; Panorama do Pensamento Cristão, 1 ed., Casa Publicadora da Assembleias de Deus, 2001, Rio de Janeiro, RJ.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DESIGREJADOS, COMO SE EU SOU A IGREJA?

Autor: Marcelo Carvalho Nascimento RESUMO Há um crescente número de desigrejados e buscaremos entender os motivos que levam as pesso...