terça-feira, 25 de setembro de 2012

Será que Deus é bom mesmo?

Por milhares de anos os judeus fizeram a seguinte oração: “Daí graças ao Senhor, pois ele é bom, porque o seu amor dura para sempre”. Eis uma oração excelente para a nossa reflexão, porque são exatamente as duas coisas de que mais duvidamos hoje. O Senhor é bom? O seu amor dura para sempre? Basta uma breve observação da historia ou um exame das manchetes de qualquer dia, e uma pessoa racional começa a duvidar dessas afirmações tão ousadas. Essas também são razões por que o Antigo testamento merece a nossa atenção, pois os judeus evidentemente duvidavam da oração própria que faziam. Porém, como é comum nos relacionamentos íntimos, levavam essas dúvidas à outra parte, ao próprio Deus, e recebiam resposta direta. 

Aprendemos no Antigo testamento como Deus age muito diferente do que poderíamos imaginar. Ele se move lentamente, de forma imprevisível e paradoxal. Os primeiros onze capítulos de Gênesis apresentam uma série de falhas humanas que questionam todo o projeto da criação de Deus. Como solução para essas falhas, Deus manifesta seu plano em Gênesis 12: lidar com o problema da humanidade estabelecendo uma família especial, uma tribo conhecida como os hebreus (mais tarde chamados judeus). Por intermédio deles, o útero da Encarnação, Deus trará restauração para toda a terra, voltando para o projeto inicial. 

Uma vez apresentado o plano, Deus continua a agir de forma muito misteriosa. Para fundar sua tribo, escolhe um pagão de região que hoje é o Iraque e o faz passar por uma série de testes, em muitos dos quais, Abraão não se sai bem. No Egito, por exemplo, ele demonstra uma moral inferior à dos adoradores do sol. 

Depois de prometer uma descendência numerosa como as estrelas do céu e a areia do mar, o que Deus faz é dar prosseguimento a uma “clínica de infertilidade”. Abraão e Sara esperam até os noventa anos para ver o primeiro filho; a nora deles, Rebeca, permanece estéril por muito tempo; o filho dela, Jacó, tem de esperar catorze anos pela esposa dos seus sonhos, para descobrir então que ela também é estéril. Três gerações de mulheres estéreis não parece ser uma maneira muito eficiente de constituir uma grande nação. 

Depois de fazer promessas semelhantes de uma terra especial (Abraão possuía somente um túmulo em Canaã), Deus faz os israelitas passarem por um desvio no Egito, onde eles apodrecem por quatro séculos até Moisés chegar para conduzi-los à terra prometida, peregrinação deplorável que leva quarenta anos em vez de duas semanas esperadas. Evidentemente Deus trabalha com um calendário diferente do usado por seres humanos impacientes. 

As surpresas continuam na era do Novo Testamento, pois nenhum dos orgulhosos mestres judeus reconhece Jesus de Nazaré como o Messias anunciado de forma triunfal nos Salmos e nos Profetas. Aliás, isso continua acontecendo hoje quando profetas auto-proclamados identificam com o anticristo, de forma convicta, uma sucessão de tiranos e de pessoas de expressão mundial, para depois verem Hitler, Stalim, Kissinger, Hussein simplesmente desaparecer de cena. 

Os cristãos que vivem na atualidade deparam com muitas promessas não-cumpridas. A pobreza e a população mundial continuam crescendo assustadoramente, e o cristianismo com muita dificuldade procura manter sua percentagem entre a população. O planeta tende à autodestruição. Esperamos e continuamos esperando os dias gloriosos prometidos pelos profetas e pelo Apocalipse. Com Abraão, José, Moisés e Davi aprendemos o fato de que Deus age por meios que não poderíamos prever, nem mesmo desejar. Às vezes a história de Deus parece operar num plano totalmente diferente do nosso. 

O antigo testamento dá um vislumbre do tipo de história que Deus está escrevendo. O Êxodo identifica pelo nome as duas parteiras hebréias que ajudaram a salvar a vida de Moisés, mas não se importa em registrar o nome do Faraó que estava regendo o Egito na época (omissão que tem deixado os estudiosos perplexos desde aquela época). O primeiro livro dos Reis dedica um total de oito versículos ao rei Onri, ainda que os estudiosos seculares o considerem um dos reis mais poderosos de Israel. Na sua maneira de fazer história, Deus não se impressiona com tamanho, poder ou riqueza, Fé é o que ele está esperando, e os heróis que vemos surgir são heróis da fé, não de poder ou riqueza. 

Portanto, a história de Deus concentra-se nos fiéis a ele, não importa o resultado dos fatos. Quando Nabucodonosor, um dos muitos tiranos que perseguiram os judeus, ameaça três jovens de serem torturados pelo fogo, eles responderam: 

“Se formos lançados na fornalha de fogo ardente, o nosso Deus, a quem nós servimos, pode livrar-nos dela, e ele nos livrará da tua mão, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste”. 

Impérios erguem-se e caem, líderes poderosos são catapultados ao poder e depois despencam de lá. O mesmo Nabucodonosor que lançou esses três jovens na fornalha acaba insano, pastando no campo como uma vaca. Os impérios que se seguem ao dele – Pérsia, Grécia e Roma – tão poderosos em seus dias, são postos na lata do lixo da história. Enquanto isso o povo de Deus sobrevive até aos piores ditadores. Aos poucos, com esmero, Deus escreve sua história na terra por meio dos atos de seus fiéis seguidores, um por um. 

Com sua história de tortura, os judeus demonstram a lição mais surpreendente de todas: não se erra quando Deus é levado a sério como pessoa. Deus não é um poder indistinto que vive em algum lugar do céu, não é uma abstração como os gregos propuseram, não é um super-homem sensual com o que os romanos adoravam e com certeza não é o relojoeiro ausente dos deístas. Deus é pessoal. Ele entra na vida das pessoas, vira famílias de cabeça pra baixo, aparece em lugares inesperados, escolhe líderes com poucas probabilidades de sucesso, chama as pessoas a prestar contas. Acima de tudo, Deus ama. 

Como o grande teólogo judeu Abraham Heschel escreveu em The prophets [Os profetas]: 

“Deus não se revela ao profeta por meio de um absoluto abstrato, mas por meio de uma relação pessoal e intima com o mundo. Ele não está simplesmente exigindo obediência e contando que será obedecido; também é tocado e influenciado pelo que acontece no mundo, reagindo a isso. Os fatos e os atos dos seres humanos despertam nEle alegria ou tristeza, prazer ou ira [...] Os atos dos seres humanos movem-no, abalam-no, causam-lhe tristeza ou, senão, dão-lhe satisfação e prazer. 

[...] o Deus de Israel é um Deus que ama, um Deus que se dá a conhecer ao ser humano e se preocupa com ele. “Não somente rege o mundo na majestade do seu poder e sabedoria, mas reage intimamente diante dos fatos da historia”. 

Mais do que qualquer outra imagem, Deus escolhe “crianças” e “amantes” para classificar nosso relacionamento com ele de algo íntimo e pessoal. O antigo testamento está repleto de exemplos da figura noivo-noiva. Deus corteja seu povo e está apaixonado por ele como um amante por sua amada. Quando seu povo não lhe dá importância se sente machucado e desprezado como um amante traído. Mudando as metáforas de geração em geração, o antigo testamento também informa que somos os filhos de Deus. Em outras palavras, o mais próximo que podemos chegar da compreensão de como Deus nos vê é pensar nas pessoas mais importantes para nós: nossos próprios filhos, e a pessoa que amamos. 

Pense no pai “coruja” com a filmadora na mão, estimulando a filha (Sophia) de um ano e pouco a soltar a mão do sofá e dar três passos em direção a ele: “Vamos lá, filha. Você vai conseguir! É só soltar a mão do sofá. Papai está aqui. Venha, vamos”. Pense numa adolescente perdidamente apaixonada com a orelha presa ao telefone durante horas para contar todos os detalhes de seu dia a um rapaz que, de tão apaixonado que também está, até se interessa por tudo isso. Pense nessas duas cenas e depois imagine Deus numa ponta e você na outra. Essa é a mensagem do Antigo testamento. 


Ps: Nada em Deus é mais surpreendente do que a escolha que fez de suas companhias, alvos de sua intimidade escolhidos a dedo. Abraão mentiu pela esposa, Jacó enganou o irmão, Moisés cometeu assassinato, Davi, matou e adulterou – mesmo assim todos foram parar na lista dos preferidos de Deus. Jacó conseguiu o seu nome novo “Israel” (aquele que luta com Deus) depois de uma luta com Deus que durou a noite toda. Desde esse dia o nome do povo de Deus lembra aquela luta. Os integrantes do povo de Deus são literalmente filhos do conflito. Deus acerta os ponteiros com murmuradores ruidosos como Jó, Jeremias e Jonas. Ele enfrenta Abraão e Moisés em discussões longas – e às vezes os deixa ganhar! Ele é assim, leva os seres humanos a sério, dialoga com eles, os inclui em seus planos e ouve o que têm a dizer. 

4 comentários:

  1. Nunca li tanta asneira junta, sobre Deus. Fiquei mais ateu ainda do que já era.rsss.

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  2. Só vim comunicar que deus não existe. Fiquem com deus. (muito gay isso né)

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  3. Muito BOM irmão Macelo!
    Esses dois Comentaristas não sabem o que DIZEM...
    Que Deus tenha piedade deles, e liberte eles.


    QUE JESUS TE ABENÇOE IRMÃO...

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  4. Só sei de uma coisa, se os pastores evangélicos pique Macedo que enganam descaradamente estão cada vez mais ricos e poderosos, e os políticos corruptos ficam milionários e se perpetuam no poder, céu e inferno vira istória de carochinha.
    A verdade é que morreu já era fio!!!

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