quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A vergonha dos pulpiteiros.

É sempre a mesma novela. E do tipo que não vale a pena ver de novo. Chega ano eleitoral, e logo a igreja se vê assediada por candidatos em busca de votos. Geralmente, a crítica de quem não concorda com o engajamento político/partidário da igreja é dirigida aos candidatos e aos pastores. E de fato, chega a ser vergonhoso a maneira como nossos púlpitos têm sido profanados, e os votos das ovelhas negociados. 
Mas há algo que passa despercebido por muitos. Quem estaria por trás dos bastidores de toda esta promiscuidade? Teríamos que inventar uma nomenclatura para designar o agente intermediário entre o púlpito e o palanque. Já que existe omarketeiro (profissional de marketing que conduz a campanha política), que tal chamarmos este elemento de “pulpiteiro”?

De onde surgem os pulpiteiros? Na maioria das vezes de dentro das próprias igrejas. Pode ser um obreiro, ou simplesmente um membro que pareça bem intencionado, que preocupado com o “de$envolvimento” da obra, trata de buscar recursos para incrementá-la.

O papo segue sempre a mesma linha.

- Pastor, nossa igreja precisa crescer, dar uma arrancada. E o senhor sabe… os irmãos aqui são pobres… Precisamos de recursos de fora. Por falar nisso, conheço um político muito boa praça que tem um coração aberto pra obra do Senhor. O que o senhor acha de trazê-lo aqui qualquer hora dessas? Ele até me falou que gostaria de patrocinar a laje do templo. O que o senhor me diz?Imaginemos que o pastor seja um homem de bem, que não queira se vender. Ele poderia responder mais ou menos assim:

- Meu irmão, não queremos nos envolver com isso. Não acho legal ceder nosso púlpito a candidatos. Sabe como é… questão de princípios.Daí, nosso pulpiteiro responde:

- Que isso, pastor? Deixa disso. Sabe aquela igreja ali na esquina? Veja como cresceu rapidamente de um tempo pra cá. Eles apoiaram o atual prefeito em sua candidatura, e ganharam um terreno pra construir o novo templo. Não adianta querer ser muito certinho. Além do mais, o irmão Fulano (já chamando o candidato de “irmão”) me confidenciou que gostaria muito de lhe dar um carro novo pra lhe ajudar na evangelização. Disse até que iria com o senhor na agência, e que o senhor poderia escolher o modelo que lhe agradasse. Isso é bênça, pastor! Aproveita. Todos os pastores desta área estão de carro novo, só o senhor com este fusquinha velho. As pessoas comentam… Tá pegando mal…A partir daqui, a conversa toma outro rumo. Os votos das ovelhas são negociados em troca de instrumentos novos pra igreja, cargo no gabinete do político para o filho do pastor, e às vezes, uma oferta generosa, entregue discretamente no gabinete pastoral.

Ora, se o pastor ganha com isso, imagine quanto ganha o pulpiteiro?

É também ele quem orienta o candidato para não cometer gafes no púlpito. Dá dica de versículos bíblicos, ensina os jargões e trejeitos dos crentes, e até a orar. Não duvido que haja quem ensine candidatos a falar em línguas… Tudo para angariar a confiança e os votos dos irmãozinhos.

Alguns são tão insistentes que quando o pastor se recusa a ceder seu púlpito, chegam quase a implorar para que pelo menos apresente o candidato durante o culto, e que permita a panfletagem do lado de fora da igreja.

Há pulpiteiros que recebem do pastor plenos poderes para falar em seu nome. E aí o perigo redobra. Outros, mesmo não recebendo qualquer procuração, falam e negociam em nome da igreja.

A figura do pulpiteiro nos remete Geazi, o discípulo ganancioso de Eliseu.

Quando o profeta se recusou a receber os presentes de Naamã, Geazi ficou inconformado, e disse: “Meu senhor poupou a este siro Naamã, não aceitando o que ele trouze. Tão certo como vive o Senhor, hei de correr atrás dele, e obter alguma coisa” (2 Reis 5:20b).

Na concepção de Geazi, Eliseu havia passado um atestado de idiotice, simplesmente por não haver aceitado o que o general estrangeiro lhe oferecera. Assim são vistos os pastores que preferem manter-se distantes das campanhas eleitorais. Muitas vezes são recriminados pelos próprios membros da igreja. 

Geazi conseguiu mais do que queria. Além dos bens que recebera de Naamã, foi contaminado com a lepra da qual o general havia sido curado. E de acordo com a palavra do profeta, aquela enfermidade se pegaria a ele e à sua descendência para sempre.

A pior de todas as lepras é a lepra ética. Homens corruptos geram filhos corrompidos.

Naamã não era corrupto. Ele sequer percebeu que estava sendo vítima da avareza de Geazi, que por sua vez, falava em nome do profeta sem o seu consentimento. 

Pastores, tomem cuidado com os Geazis que rondam nossas igrejas. Talvez estejam usando seu nome para obter vantagens pra si. Não cedam seus púlpitos. Não o profanem, transformando-o em palanque. Não peçam voto pra ninguém. Não indiquem. Se quiserem manifestar sua opinião, façam fora do ambiente do templo. Mas não usem de suas prerrogativas como líderes para influenciar os crentes a votarem em seu candidato predileto. Isso não é ético. E chega mesmo a ser imoral. 

Se um pulpiteiro lhe procurar, não ceda à pressão, não tente argumentar com ele, nem lhe dê esperança. 

Faça as pazes com o seu travesseiro. Dê aos membros de sua igreja a oportunidade de exercerem sua cidadania livremente. 

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