segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

DESIGREJADOS, COMO SE EU SOU A IGREJA?


RESUMO

Há um crescente número de desigrejados e buscaremos entender os motivos que levam as pessoas a se declararem como tais.  Apesar de ser um neologismo, esse movimento não é tão recente como nos mostra a história, houve simplesmente uma nova nomenclatura para definir o termo. Mostraremos uma maneira de levar a igreja a enxergar o que tem motivado esse crescimento de desigrejados, como também a mudança de postura que ela tem que ter, para atender as mudanças atuais na sociedade, pois se a igreja é um organismo vivo, ela tem que se adaptar para que possa ter relevância. Os desigrejados são uma realidade no Brasil, segundo IBGE em 2003 tinha o total de 0,7% dos cristãos protestantes que se diziam não frequentadores de templos. Em 2009 esse número já havia chegado a 2,9%. Diante destes dados percebemos que essa é uma realidade a qual vem crescendo, esse número dá uma estimativa de aproximadamente quatro milhões de pessoas. Mediante a pesquisa bibliográfica realizada, chegamos à conclusão que os desigrejados ao cumprirem os ensinamentos bíblicos com suas aplicações tornam-se igreja, sendo isso um processo natural para os que vivem o cristianismo na prática. Logo o versículo mais utilizado pelos desigrejados para justificar sua posição nada mais é que um erro hermenêutico. A Igreja precisa fazer uma definição teológica e histórica sobre ela, para evitar que esse número cresça a cada dia. Apesar dos desigrejados terem fundamentos em alguns pontos, faz-se necessário sermos igreja, pois a mesma foi instituída por Jesus. 

Palavras-chave: Desigrejados. Igreja. Sociedade. Instituição.

1   INTRODUÇÃO

Partindo do ponto que há um crescente número de desigrejados buscaremos entender os motivos que levam as pessoas a se declararem como tais e que apesar de ser um neologismo esse movimento não é tão recente como nos mostra a história, simplesmente houve uma nova nomenclatura para definir o mesmo. Diante dos fatos vistos, buscaremos uma maneira de levar a igreja enxergar o que tem motivado esse crescimento de desigrejados como também a mudança de postura que a mesma tem que ter para atender as mudanças atuais na sociedade, pois se a igreja é um organismo vivo ela tem que se adaptar para que possa ter relevância. A igreja precisa desenvolver também uma maior coerência entre o pregado e vivido por seus membros, porque este distanciamento tem provocado essa mudança estrutural no cristianismo. Esta pesquisa é um norte para entendermos o que é igreja o nos adaptarmos a esse novo cenário no campo da fé. Precisamos entender primeiro o que é igreja, como também sua estrutura e atuação social e buscarmos, a partir de definição, quais movimentos surgiram antes dos desigrejados, o que são e no que acreditam, para que assim possamos entender esse novo cenário no cristianismo.
Diante da mudança cultural e do descredito com as instituições, em nosso caso a igreja, está tendo uma mudança significativa de pessoas que acreditam no cristianismo e querem vivê-lo, mas não querem fazer parte dela. Vemos então que um estudo destas mudanças faz-se necessário para sabermos o ponto de partida e o embasamento que essas pessoas tomam para terem esta atitude de ser igreja sem fazer parte dela dentro do ponto de vista do cristianismo. E nos leva também a buscarmos definir a Igreja de Cristo, a igreja instituição desde o seu surgimento, função social, importância para vida do endividuo em sociedade e revermos ao longo de sua historia o que fez perder sua relevância enquanto instituição diante da sociedade, para podermos assim trazer um papel de conscientização sobre a necessidade da igreja para crescimento saudável do cristianismo diante de uma sociedade relativista. 
Para a ciência esse tema tem a importância de trazer um conceito antropológico sobre mudanças sociais e seus impactos sobre a vida do individuo, e por ser um tema novo necessita de muita pesquisa na área para podermos assim compreender melhor seus benefícios e malefícios diante do homem como ser social e seus reflexos sobre a igreja. Esse estudo sobre os desigrejados tem uma relevância social muito importante, pois é um número bastante crescente e expressivo, há estimativas que este número passe de 4 milhões entre os evangélicos, vemos então que as pessoas estão buscando a Cristo sem fazerem parte da igreja Dele, todos estes desigrejados dizem serem cristãos e seguirem seus ensinamentos, mas ao mesmo tempo não fazem e não precisam fazer parte da igreja segundo eles. O que levam os desigrejados a tomarem essa decisão são as decepções com as lideranças e a forma que a igreja tem atuado na sociedade atual, trazendo assim o descredito à igreja. Diante das decepções com as instituições compostas por pessoas falíveis, muitos veem a importância do cristianismo e as relevâncias dos seus respectivos ensinamentos para vida social e pessoal. Com seus ensinamentos a igreja influencia de forma direta os modos de comportamentos e relacionamentos do homem perante a sociedade, por esse motivo a ela vem sendo criticada veementemente pela sociedade atual por não ter muitas de suas decisões e opiniões de acordo com a cultura e pensamento filosófico contemporâneo, porém muitas das pessoas veem nos ensinamentos cristãos muita solidez e coerência, mas, pela falta de ensinamentos da igreja aos seus membros sobre a cosmovisão cristã e criticidade bíblica diante das filosofias contemporâneas, surgem diversos questionamentos sobre a relevância da igreja perante a sociedade atual que perante a visão de muitos está muito distante dos conceitos atuais.
            Tudo o que foi citado ganha força pela falta de unidade entre as igrejas cristãs, pois há na atualidade muitas denominações e tradições, entre as tradições temos os tradicionais, pentecostais clássicos e os neopentecostais além da igreja católica que também é cristã. Nos dias atuais, tanto na igreja católica quanto na evangélica, a intolerância religiosa é claramente gritante diante da sociedade, levando a um distanciamento dos ensinamentos de Cristo e a prática a qual tinha que ser vivida pela igreja. Outra contribuição contundente nesse cenário são os suscetíveis escândalos envolvendo a igreja, em sua maioria a busca desenfreada pelo poder e riquezas, atos esses que distanciam os líderes religiosos de seu verdadeiro chamado que é instruir o povo de Deus. Desse modo, essa investigação possui uma pesquisa bibliográfica, a partir dos livros de Idauro Campos (2017), Augustus Nicodemus (2011), mas possui seu outro lado que é a questão da sociedade em lidar com esse movimento complexo e diversificado na modernidade. Todavia, é norteado de um pensamento crítico que tenta entender esse movimento. Afinal, não é possível entender uma religião sem desmembrar o seu poder institucional pensando em sua secularização, e no ser humano como parte da mesma.
           
2   (DESENVOLVIMENTO) DESIGREJADOS COMO? SE EU SOU A IGREJA

            Desigrejados, como se eu sou a igreja? Os desigrejados são uma realidade não só no Brasil, mas em todo mundo atual. No Brasil, Tiago Chagas (2018), em uma publicação no site notícias gospel mais, relata que o IBGE em 2003 tinha o total de 0,7% dos cristãos protestantes que se diziam não frequentadores de templos. Em 2009 esse número já havia chegado a 2,9%. Diante destes dados percebemos que essa é uma realidade a qual vem ganhando um número expressivo de pessoas que se declaram cristãs sem igreja, esse número dá uma estimativa de aproximadamente quatro milhões de pessoas.   Diante deste cenário a revista ISTOE diz que isso já era esperado:

Acaba de nascer no País uma nova categoria religiosa, a dos evangélicos não praticantes. São os fiéis que creem, mas não pertencem a nenhuma denominação. O surgimento dela já era aguardado, uma vez que os católicos, ainda maioria, perdem espaço a cada ano para o conglomerado formado por protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. Sendo assim, é cada vez maior o número de brasileiros que nascem em berço evangélico – e, como muitos católicos, não praticam sua fé. (ISTOE. 24/08/2011 nº 2180).

            Com os avanços tecnológicos e desenvolvimento cultural a sociedade tem se tornado cada vez mais aberta às novas culturas e conhecimento tendo como consequência a secularização da sociedade, isso é um fenômeno natural, mas segundo a ISTOE quando isso atinge o campo da fé possibilita um cenário novo de transmissão de dogmas, fazendo com que o viés tradicional perca força.

Isso só é possível porque o universo espiritual está tomado por gente que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação. Se outrora o padre ou o pastor produziam sentido à vida das pessoas de muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com essas lideranças. Assim, muitas vezes, os fiéis interpretam a sua trajetória e o mundo que os cerca de uma maneira pessoal, sem se valer da orientação religiosa. Esse fenômeno, conhecido como secularização, revelou o enfraquecimento da transmissão das tradições, implicou a proliferação de igrejas e fez nascer a migração religiosa, uma prática presente até mesmo entre os que se dizem sem religião (ateus, agnósticos e os que creem em algo, mas não participam de nenhum grupo religioso). (ISTOE. 24/08/2011 nº 2180).

            Quando vamos para a igreja institucionalizada, Augustos Nicodemus (2011. p 153) diz que a igreja está hoje no centro de acirradas discussões em praticamente todos os quartéis da cristandade e mesmo fora dela.  Diante desses fatos, é notório que os questionamentos sobre a importância da igreja para com a sociedade, como a mesma está em evidencia e juntamente com elas seus problemas, muitos cristão as tem abandonado ou tentam viver o cristianismo fora dela, como nos diz Nicodemus:

Alguns simplesmente abandonam a igreja e a fé, mas outros querem abandonar apenas a igreja e manter a fé, querem ser cristão, mas sem igreja. Muitos desses estão apenas decepcionados com a igreja institucional e tentam continuar a ser cristão sem pertencer ou frequentar nenhuma comunidade. Toda via existem aqueles que, além de não mais frequentarem a igreja, tornam bandeira e passaram a defender abertamente o fracasso total da igreja organizada, a necessidade de um cristianismo “desigrejado”, ou seja de sairmos da igreja para podermos encontrar com Deus. (Nicodemus, 2011. P 153-154)

Vemos que os desigrejados já levantaram a sua bandeira e já alcançaram uma considerável expressão. Então, temos que, de forma contundente, mostrar bíblico e historicamente o que é igreja, por que a mesma foi instituída, quem compõe sua forma de governo, entre outros pontos, para assim termos a plena certeza sobre a eficácia e importância da mesma para o cristianismo. O que percebemos nos desigrejados é que muitos criticam a igreja sem conhecer a mesma em sua totalidade, como também não podemos negar que em algumas de suas colocações os desigrejado têm suas razões. Nicodemus (2011. P 154) diz que Cristo não deixou nenhuma forma de igreja organizada e institucional, sendo essa afirmação um dos pilares para o argumento dos desigrejados. Com a morte de Cristo os seus seguidores tinham a necessidade de dar nova forma a seus ensinamentos.

Se afastaram dos ensinos de Jesus, organizando um corpo como instituição (a igreja), criando estruturas, inventando ofícios para substituir os carismas, elaborando hierarquias para proteger e defender a própria instituição, eles se organizaram de tal maneira que acabaram deixando Deus de fora. Com a influência da filosofia grega na teologia e a oficialização do cristianismo pelo Império Romano, a igreja corrompeu completamente. (Nicodemus 2011. P 154).

Vemos então que a problemática que a igreja vem passando com os desigrejados teve seu início nos primeiros séculos da era cristã, se agravando com o tempo. Logo vemos que a secularização e o reconhecimento do cristianismo levou a igreja a ter relações diretas com o Estado perdendo assim sua essência que era propagar os ensinamentos de Cristo. Houve também tentativas de combate a essa corrupção, mas não houve êxito como podemos ver:

Apesar da Reforma ter se levantado contra essa corrupção, os protestante e evangélicos acabaram caindo nos mesmo erros ao criarem denominações organizadas, sistemas interligados de hierarquia e processos de manutenção do sistema, como a disciplina e a exclusão dos dissidentes, ao elaborar confissões e declarações de fé e catecismos que engessam a mensagem de Jesus e impediram o livre pensamento teológico. (Nicodemus 2011. P 154).

            Logo ao nos depararmos com essa afirmação, somos levados a pensar qual a verdadeira forma da igreja e qual a melhor maneira de viver o cristianismo? Então temos que lembrar da nossa principal fonte de orientação: a bíblia sagrada. Nicodemus (2011. P 155) diz que de acordo com Jesus, onde estiver dois ou três que creem nele, ali está a igreja, pois Cristo está com eles, conforme prometeu em Mateus 18. Percebemos então que igreja é a comunhão de pessoas ou reunião. Mas qual a sua origem, a seguir temos uma definição sobre igreja:

A origem do vocabulário igreja é a palavra grega ekklesía (ek = de dentro de + klesia = chamados), que ganhou o sentido de chamados para fora. Tal sentido nós da a ideia que a igreja exerce suas funções em outra dinâmica da sociedade: não se mistura, salga apresenta o caminho a ser seguido . (Bezerra. 2017. P 14-15).

            Diante dessas declarações vemos que a igreja não é um templo, e sim uma reunião de pessoas com um proposito comum, logo não tem como eu ser desigrejado porque eu sou a igreja de Cristo, começando assim os princípios bíblicos sobre igreja que tem sua formação dependente da quantidade de pessoas e lugar como podemos ver:
     
O evangelho de Mateus 18:20 afirma: “pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”... Onde: pode ser em qualquer lugar, contanto que seja um lugar definido, visível. Dois ou Três: denota qualquer número de pessoas, mas exige um compromisso mútuo. Jesus: Devem estar reunidos em função de Jesus. (Bezerra. 2017. P 19)

Com a citação acima vemos que mesmo se declarando desigrejados, não tem como serem os mesmos, pois o princípio de igreja é estar junto, logo pode não ser uma instituição formalmente regulamentada como tal, mas não deixa de ser igreja em sua gênesis. Nicodemus também concorda com os desigrejados em alguns pontos sobre igreja institucionalizada, mostrando que na realidade há e uma confusão sobre o que e ser igreja como podemos ver:

Infelizmente, eles estão certos quanto ao fato de que muitos evangélicos confundem a igreja organizada com a Igreja de Cristo e têm lutado com unhas e dentes para defender sua denominação, mesmo quando esta não representa genuinamente os valores da Igreja de Cristo. Concordo também que a Igreja de Cristo não precisa de templos construídos nem de todo aparato necessário para sua manutenção. (Nicodemus. 2011. P 155).

Diante de alguns pontos de concordância, vemos que o cristianismo dos desigrejados tem fundamento primitivo, mostrando assim que a igreja é muito mais que templos. Mas precisamos entender quando houve o surgimento dos templos e instituição para podermos assim de maneira coerente explicar que na realidade não houve um distanciamento do cristianismo e sim uma transição na forma de culto, transição essa que ocorreu devido à secularização da sociedade. Nicodemus nos mostra essa transição na historia como podemos constatar:

Ela na verdade, substitui de forma vigorosa nos quatro primeiro século se reunindo em casas, cavernas, vales, campos e até em cemitérios. Os templos cristãos só foram erigidos após a descriminalização do cristianismo pelo imperador Constantino, no século 4. (Nicodemus 2011. P 155)

Quando nós percebemos que a institucionalização da igreja foi um processo natural depois do reconhecimento do cristianismo como religião oficial de Roma, confirmamos que os desigrejados são um fenômeno de pessoas que querem viver o cristianismo sem fazer parte de uma igreja institucionalizada, ou seja, querem voltar aos princípios do cristianismo informal. Além de Nicodemus, outros autores retratam bem esse fenômeno que vem crescendo a cada dia. Segundo Idauro Campos (2017, p. 23) em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística registrou no censo o contingente de quatro milhões de brasileiros que se declararam aos agentes censitários como evangélicos sem vínculos institucionais. Mas afinal quem são essas pessoas? Apesar destas usarem o termo desigrejados que expressa ser uma nova tendência por ser um termo novo para a igreja, de acordo com Idauro Campos (2017, p.24), é um comportamento histórico que sempre reaparece, apresentando apenas uma e tão somente nova roupagem, conforme a época e situação da igreja na sociedade.
            Os desigrejados não são somente pessoas que criticam a igreja institucional, o professor Idauro Campos nos traz algumas razões básicas para esta mudança de comportamento que leva a pessoa professar a fé cristã sem igreja como podemos ver a seguir:

As razões básicas para as críticas passam pela denúncia dos prejuízos à fé cristã pela institucionalização da igreja, das decepções com promessas feitas em nome de Deus e que nunca se cumpriram, além das práticas e ensinos questionáveis ministrados em ambientes eclesiásticos e a repulsa com os maus exemplos das lideranças (pastores, bispos e apóstolos). (CAMPOS, 2017. P.25-26)

            Os motivos das pessoas tomarem essas decisões em parte é culpa da igreja, por negligenciar os ensinamentos das escrituras, escolhas de lideres despreparados teologicamente, pouca relevância em sua atuação social entre outros motivos desencadeando assim uma mudança significativa no cenário da fé cristã. 
            Ao longo da história surgiram vários movimentos com diversos nomes, mas que em sua essência se assemelha com os desigrejados e Idauro Campos trata isso como algo não tão novo como ele mesmo no diz:

O fato é que tais desencantos institucionais com as igrejas cristãs e a consequente proposta de ruptura não são novidades na História da Igreja. No decorrer de mais de dois mil anos de história, diversos indivíduos e/ou grupos manifestaram suas discordâncias com a organização eclesiástica do cristianismo, denunciando aquilo que julgavam ser um desvio dos ensinos de Jesus Cristo e também dos apóstolos e apelando para uma forma mais simples da vida cristã, sem ênfase litúrgica, clero ordenado e burocratização no modus operandi da igreja. (CAMPOS, 2017. P.87)

Entre os vários movimentos que surgiram os que tiveram uma relevância maior segundo Idauro campos foram os: “Montanhismo, Pais do deserto, Donatismo, Pedro de Bruys e Henrique de Lausanne, Hugo Speroni, Joaquim de Fiore, Anabatistas, Quakers, Darbistas, Dietrich Bonhoeffer”. Todos os citados trazem a ideia que partem do mesmo pressuposto o descontentamento e discordância com atuação da igreja em seus respectivos períodos.
            Vemos então que os desigrejados em sua essência acreditam que podem seguir a Cristo e professarem sua fé sem está congregando em uma igreja institucionalizada, pois veem a instituição como uma maneira de esfriar a pratica de sua fé devido à burocratização e atuação na sociedade, tem como preceito principal que basta estar reunidos e partilharem da palavra de Deus para o mesmo se fazer presente em seu meio. Acreditam que desta forma simples terão uma maior eficácia no evangelismo e prática de sua fé, pois para eles Cristo não deixou nem uma instituição oficial e sim a pregação do evangelho. 
            Para entender esse fenômeno precisamos saber o que é a igreja como ela surgiu e sua importância para Deus. Idauro Campos no diz que a igreja começou no Antigo Testamento como a nação dos hebreus como podemos ver:

Uma igreja despida de toda organização e materialidade é algo tão somente utópico. É irreal. Desde os antigos tempos de formação do povo hebreu a ideia de uma organização daqueles que seriam reconhecidos como ‘povo de Deus” ganhou forma(...) O antigo testamento, portanto enfatiza a interpretação da formação de uma comunidade, um povo, uma       nação  e esta formação, como é óbvio, não acontece apenas conceitualmente, mas se desdobra em contornos históricos, isto é, o povo de Deus é organizado, visando ser um reino ou uma nação sacerdotal. (CAMPOS, 2017. P.139)

            Vemos então que a igreja institucional não surgiu do acaso, já tinha seu prepotipo com Israel, logo uma nação tem leis, líderes e membro de igual modo a igreja, diante disso vemos que a igreja organizada e institucional surgiu no coração de Deus e não do homem isso é confirmado por Charles Hodege.

Acerca da igreja neste sentido, ensina-se claramente as escrituras que a vontade de Deus é que essa igreja deve existir sobre a terra (...) Deus impôs ao seu povo deveres que são necessários para que vivam assim associados em um corpo visível organizado. Unem-se em seu culto; na instrução e na propagação de sua verdade; no testemunho acerca de Deus em todas as épocas e em todas as partes do mundo. (Hodege, 2001. P.1426) 

            Quando vamos para o novo testamento, onde a igreja primitiva é tão citada pelos desigrejados por sua pureza e atuação do Espirito Santos para assim questionar a institucionalização atual podemos confirma que mesmo a igreja primitiva seguia um padrão institucional como nos diz Idauro Campos:

A igreja de Jesus Cristo no novo testamento irrompe na narrativa do livro de Atos dos Apóstolos como fruto da pregação de Pedro ao explicar o evento extraordinário do derramamento do Espirito Santo (At 2.1-36) em cumprimento da profecia de Joel (Jl 2.28-32). A igreja já nasce como um projeto comunitário igualitarista, onde filhos e filhas profetizam e onde jovens têm visões e os anciões sonham (At 2.42), ou seja, uma comunidade do homem, da mulher, do jovem e do idoso. Uma comunidade de todos e para todos e não apenas para homens sexagenários. (...) É uma comunidade da palavra, da reunião, das orações e da adoração (At 2.42). Apesar de toda dinâmica e espontaneidade presentes na vida da Igreja Primitiva, aspectos institucionais ganharão forma como o tempo, sendo desenvolvimento natural de sua existência na terra. (CAMPOS, 2017. P.147)

            Quando percebemos que a institucionalização da igreja é algo natural e saudável para existência do cristianismo, vemos que o surgimento dos desigrejados acontece por causa da sociedade pós-moderna e suas filosofias como nos diz Idauro Campos.

Inconscientemente ou não, aceitando ou não a denúncia, o movimento moderno dos desigrejados tem sofrido influência dos pós-modernismo, sendo frutos, entre muitos, o relativismo, o pluralismo e a crise de pertencimento. (...) Com essas barreiras, a tensão com o cristianismo torna-se inevitável, porquanto no cristianismo há ênfase na verdade dogmática. (CAMPOS, 2017. P.177)

Diante disso o surgimento dos desigrejados é mais uma questão filosófica do que uma problemática na instituição da igreja. Diante de tudo o que foi visto a igreja tem que rever seus conceitos, já para os desigrejados os mesmo tem que aprender a se adaptar a igreja e teologicamente mudar os seus erros confiando no agir do Espirito Santo e não na ação Humana.
Posto todos os argumentos acima precisamos entender de uma vez por todas que tanto para a igreja quanto para os desigrejados o importante é Cristo. Logo se sou cristão tenho que viver o ensinamento de Jesus, sendo ele quem institui a igreja que é fundada sobre sua pessoa como cita Nicodemus:

Jesus disse aos discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de Pedro, que ele era o Cristo, o filho do Deus vivo (Mt 16:15-19). A igreja foi fundada sobre essa pedra, que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (cf 1Pe 2:4-8). O que se desviar dessa verdade – divindade e exclusividade da pessoa de Cristo – não é igreja cristã. (Nicodemus 2011. P 157).

Com o que foi citado acima, Nicodemus (2011) diz que é praticamente impossível nos mantermos sobre Cristo sem sermos igreja, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados, advertidos, confirmados e onde os que se desviam da verdade apostólica são rejeitados. Vemos então que quando uma pessoa se declara cristã e se reúne com outrem para professar uma fé ela é igreja mesmo sem ser institucionalizada, não sendo assim um desigrejado. Nicodemus (2011) diz que a igreja de Cristo se ergue sobre a confissão acerca de sua pessoa, mostra ligação estreita, orgânica e indissolúvel entre Cristo e sua igreja. Outro ponto importante a ser notado foi que os discípulos entenderam bem o que realmente é igreja e sua união com Cristo, como cita Nicodemus:

Essa união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a compararam a relação entre a cabeça e o corpo (Ef 1:22-23), a relação marido e mulher (Ef 5:22-23) e entre o edifício e a pedra sobre a qual ele se assenta (1Pe 2:4-8). Os “desigrejados querem Cristo, mas não querem sua Igreja. Querem o noivo, mas rejeitam sua noiva. Mas aquilo que Deus ajuntou, não separe o homem. Não podemos ter uma sem a outra. (Nicodemus. 2011. P 158)

Chegamos então à conclusão que os desigrejados querem as boas novas e bênçãos do cristianismo, mas não querem sua disciplina, disciplina essa que foi instituída pelo próprio Jesus para crescimento espiritual e sadio da própria igreja, os desigrejados rejeita tais ensinamento alegando serem doutrinas humanas, claramente estão equivocados, pois as mesmas foram ensinadas por Cristo como vemos a seguir:

Jesus instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu em pecado (Mt 18:15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da igreja – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt 18:17). Os apóstolos entenderam isso muito bem, pois encontramos em suas cartas dezenas advertências as igrejas que eles organizaram, para que fossem afastados e excluídos aqueles que não queriam arrepender-se dos seus pecados e que não estavam andando de acordo com a verdade apostólica. (Nicodemus. 2011. P 158)

            Os desigrejados também questionam sobre formação de novas igrejas de igrejas organizadas, sobre a alegação que Jesus não fazia uso de templos para propagação de seus ensinos, mas fazia isso em casa, ruas, monte, entre vários outros lugares. Mas o que os desigrejados precisam entender é que Cristo ao ordenar fazer discípulos, faria com que a formação de igreja fosse um processo natural e maduro para com os seguidores, pois os métodos e sistemáticas de ensino garantiriam a fidelidade e propagação do evangelho como diz Nicodemus (2011):

Jesus determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo mundo, que os batizassem e ensinassem a eles tudo que havia ordenado (Mt 28:19-20) os discípulos entenderam isso muito bem. Eles organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no ensino apostólico. Estabeleceram líderes espirituais sobre essas igrejas, que eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e cuidar dos necessitados (At 6:1-6; At 14:23). Definiram claramente o perfil desses líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (Tm 3:1-13; Tt 1:5:9; Tg 5:14). (Nicodemus.2011. P 159)

            Logo é perceptível que a dificuldade dos desigrejados em fazerem parte de uma igreja é a insubmissão aos líderes, pois os mesmo dizem que devem obedecer somente a Deus, esquecendo-se que Deus deixou homens os quais cumprem sua palavra e seguem seus preceitos para instruir seu povo a viver o evangelho. Também Cristo deixou como ordenança para igreja a celebração da santa ceia a qual de forma plena configura que nos fazemos parte do corpo de Cristo, celebração essa que tem ordenanças a serem seguidas que nos qualifica a participar, os desigrejados para celebrar teriam que se reunirem configurando assim igreja, sem reunião fica difícil a celebração da mesma como diz Nicodemus (2011).

      Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regulamente para comer o pão e beber o vinho em memoria dele (Lc 22:14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e reuniam-se regulamente para celebrar a ceia (At 2:42; 20:7; 1Co 10:16). Todavia, dada a natureza da ceia, cedo introduziram normas para participação nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co 11:23-34). Não sei direito como os “desigrejados” celebram a ceia, mas deve ser difícil fazê-lo sem que estejam na companhia de irmãos que partilhem da mesma fé e que têm as mesmas convicções sobre o Senhor. (Nicodemus. 2011. P 159-160).

            Concluímos então que todos os que se declaram desigrejados ao cumprirem os ensinamentos bíblicos com suas aplicações tornam-se igreja, isso é um processo natural, pois vemos que para ser cristão temos que ter a bíblia como regra de fé, ter comunhão com pessoas da mesma fé, fazer discípulos, instruir, advertir e participar da ceia do Senhor, isso é igreja em sua essência. Logo o versículo mais utilizado pelos desigrejados para justificar sua posição, nada mais é que um erro hermenêutico como podemos ver:

É curioso que a passagem predileta dos “desigrejados” – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18:20) – foi proferida por Jesus no contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são dois ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da igreja (Mt18:16). Ou seja, são os que estão agindo para preservar a pureza da igreja como corpo, e não dois ou três que se separam dos demais e resolvem fazer sua “igrejinha” informal ou seguir carreira solo como cristão. (Nicodemus.2011. P 160).

            Então cabe a igreja atual difundir os princípios do que é ser igreja, pois muitos dos seus estão fora dela por desconhecerem sua essência e fundamento, pois ficou evidente que não tem como ser cristão sem ser igreja. Que Cristo nos guie para que diante desse considerável número de desigrejados possamos agir para que um dia venhamos a termos comunhão em sua totalidade como igreja sem indiferenças e posicionamento, pois o intuído tanto dos desigrejados como o da igreja e viver a palavra de Deus.        
  

3   CONSIDERAÇÕES FINAIS


Partindo do tema Desigrejados, como se eu sou a igreja? Vemos que esta é uma realidade no Brasil, que possuem uma grande expressão numérica, um total aproximado de quatro milhões, números esses que vem crescendo a passos largos porque falta um esclarecimento histórico e teológico sobre o que é Igreja de Cristo, e igreja Institucional. Ao adentramos na teologia vemos que a Igreja de Cristo é o princípio que rege o cristianismo, indo da formação da igreja, forma de adoração, escolhas dos líderes, maneira de disciplinar os membros faltosos e atuação prática na sociedade. Já a igreja Institucional é o processo natural de sua organização para atuar de maneira formal na sociedade. Uma não é oposição à outra, mas complemento. A igreja Institucional entra em descredito diante de sua composição que são os seres humanos que por vezes se distanciam dos ensinamentos e práticas de Cristo, o fundador da Igreja. Logo quando os que professam serem desigrejados, ao se reunirem e partilharem da sua fé, tornam-se Igreja em sua essência, mesmo que não queiram assumir a nomenclatura de igreja, é esta em sua gênesis. A problematização foi a pergunta que precisava ser esclarecida que eu não tenho como ser desigrejados se viver o cristianismo.  A escolha da pesquisa bibliográfica deu se porque há diversos autores renomados que vem discutindo o tema com bases em pesquisas e exaustos estudos hermenêuticos e históricos dando assim embasamento sólido ao tema. Diante da existência de vários autores verificamos que estes concordam que não tem como ser cristão desigrejados.       
Entendemos que todos os que se declaram desigrejados, ao cumprirem os ensinamentos bíblicos com suas aplicações, tornam-se igreja. Isso é um processo natural, pois vemos que para ser cristão temos que ter a Bíblia como regra de fé, ter comunhão com pessoas da mesma fé, fazer discípulos, instruir, advertir e participar da ceia do Senhor, isso é Igreja em sua essência. E que o versículo “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt. 18:20), que é bastante utilizado por eles, é um na realidade um erro herméutico. Porque esse versículo foi utilizado por Cristo para que os irmãos executassem um processo disciplinar com o intuito de resgatar o irmão faltoso. E que cabe a igreja atual difundir os princípios do que é ser Igreja, pois muitos dos seus estão fora dela por desconhecerem sua essência e fundamento, pois ficou evidente que não tem como ser cristão sem ser igreja. Que Cristo nos guie para que diante desse considerável número de desigrejados possamos agir para que um dia venhamos a termos comunhão em sua totalidade como igreja sem indiferenças e posicionamento, pois o intuído, tanto dos desigrejados como o da igreja, é viver a palavra de Deus.        

REFERÊNCIAS

 

CHAGAS. TIAGO. Desigrejados já são mais de 4 milhões no Brasil e suscitam debates teológicos entre lideranças. 2018. Disponível em: https://noticias.gospelmais.com.br/desigrejados-milhoes-brasil-debates-96377.html.
Acesso em 27/08/2018. 
ISTOE, REVISTA. O novo retrato da fé no Brasil. Disponível em: https://istoe.com.br/152980_O+NOVO+RETRATO+DA+FE+NO+BRASIL/. Acesso em 27/08/2018.
NICODEMUS. AUGUSTOS. O Ateísmo Cristão e outras Ameaças à Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
BEZERRA. CÍCERO MANOEL. Eclesiologia: Igreja e Perspectivas Pastorais. Curitiba: InterSaberes,2017.   
HODEGE, CHARLES. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnus, 2001.
NICODEMUS, AUGUSTUS, Polêmicas na Igreja: Doutrinas, práticas e movimentos que enfraquecem o cristianismo. Mundo Cristão. 2015.
CAMPOS, IDAURO, Desigrejados, Teoria, História e Contradições do Niilismo Eclesiástico. Rio de Janeiro: bvbooks, 2017. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

DESIGREJADOS, COMO SE EU SOU A IGREJA?

Autor: Marcelo Carvalho Nascimento RESUMO Há um crescente número de desigrejados e buscaremos entender os motivos que levam as pesso...