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Evangelização integral

Autor: Carlos Queiroz

Em quase toda a América Latina, mas especialmente no Brasil, a evangelização tem sido distorcida pela acentuada concorrência religiosa. No passado, ela atendeu a interesses coloniais. A chamada cataquese dos indígenas nada mais era que uma aculturação forçada, para facilitar a exploração. Tempos depois, os conflitos entre católicos e protestantes forjaram uma evangelização ideológica, na busca pela conquista de espaços sociais. Com a proliferação de movimentos novos – com os grupos carismáticos, entre os católicos, e os neopentecostais, no campo evangélico –, a militância religiosa tende a ser mais voltada para a concorrência do que para a cooperação. A evangelização, assim, fica reduzida ao proselitismo, mera ferramenta para se garantir uma clientela fiel à instituição religiosa.
Nesse cenário, a ênfase deixa de ser o anúncio das boas novas a respeito de Jesus Cristo e do Reino de Deus, transformando-se em um conjunto de ações em benefício da instituição que se defende. Usa-se até o marketing para se garantir maior clientela. Em se tratando da responsabilidade social, há o grande risco de se utilizar a necessidade dos empobrecidos para se promover a imagem pública do empreendimento religiosa. Assim, usa-se o amparo ao carente como uma espécie de isca para fortalecer o trabalho de anúncio da mensagem.

De fato, tanto a evangelização quanto a responsabilidade social e a participação política são formas legítimas de comunicação da justiça e da misericórdia do Reino de Deus. Mas há limites para isso. Jesus Cristo e seus discípulos assumiram a evangelização, a luta pela justiça e os atos de misericórdia sem interesses pessoais ou institucionais. A temática evangelística dos apóstolos no Novo Testamento foi o anúncio de que o Cristo crucificado ressuscitou e Deus o fez Senhor sobre todas as coisas. "Esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo", pregou Pedro em Atos 2.36. A palavra grega utilizada no trecho é kyrios, a mesma empregada em referência aos soberanos. Afirmando a soberania de Jesus Cristo sobre todo o universo, a Igreja estava tomando consciência de que a evangelização implicava em arrependimento e confissão de pecados – mas, também, na libertação dos complexos de medo e da submissão à dominação dos déspotas.

Reconhecer o senhorio de Jesus significava, naquele contexto, o rompimento com as alianças e compromissos com os tiranos e exploradores. A nova comunidade do povo de Deus era constituída, sim, por homens e mulheres à margem da sociedade; porém, transformados por um novo modelo de vida, cuja base era seguir a Cristo – e, por seguirem a Cristo, passaram a ser identificados como pecadores, como gente que andava com os pobres, os cegos, os leprosos, enfim, com aqueles que não eram considerados gente na sociedade. Em Jesus Cristo, os apóstolos e todos aqueles identificados como santos na história do Cristianismo assumiram como missão um compromisso radical com os empobrecidos e os injustiçados.

A mensagem de salvação não pode ser um mero produto ao gosto do freguês. Ela é um desafio de entrega e obediência voluntárias ao mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Na comunidade dos discípulos, os desejos por bens, prestígio ou poder devem ser controlados pelas virtudes, pela capacidade de encarar a cruz – e carregar a própria cruz é muito mais do que uma terapia para enfrentamento dos sofrimentos da vida. Na verdade, assumir o compromisso com a cruz de Jesus Cristo é aderir ao seu projeto de mundo e aos seus mandamentos até as últimas consequências. O Filho de Deus foi claro quando disse: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo". Esta é uma decisão voluntária, que só pode ser tomada em obediência ao senhorio de Cristo para vencer toda forma de ameaça que se levanta contra a possibilidade de vida plena para todas as pessoas.

A felicidade apresentada por Jesus nos evangelhos, e especialmente no Sermão do Monte, em nada se assemelha às alegrias superficiais e ilusórias dos sistemas do mercado de entretenimento e das catarses religiosas dos últimos tempos. A evangelização integral é o anuncio das boas novas de Jesus Cristo, que tem implicações em nossa reconciliação com Deus e em nossa redescoberta da vocação de ser gente. Anunciar o Reino dessa maneira envolve nossa capacidade de amar as pessoas, praticar a justiça e cuidar da Criação de maneira responsável e sustentável.

Autor: Carlos Queiroz

Fonte: Cristianismo hoje

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