terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Gnosticismo e outras heresias.


O SURGIMENTO DAS HERESIAS

Juntamente com o desenvolvimento da doutrina cristã, desenvolviam-se também as seitas, ou como eram chamadas, as heresias. Enquanto a Igreja era praticamente judaica em virtude de seus membros, havia uma leve tendência para o pensamento abstrato e especulativo. Entretanto, quando a Igreja se compunha em sua maioria de gregos, especialmente de gregos místicos da Ásia Menor, apareceram opiniões e teorias estranhas, de toda parte, as quais se desenvolveram rapidamente na Igreja. Os cristãos dos três primeiros séculos lutaram não só contra as perseguições do mundo pagão, mas também contra as heresias e doutrinas corrompidas, dentro do próprio rebanho.
Vamos tecer considerações sobre as mais importantes heresias desse período.

O GNOSTICISMO (do grego “gnosis”, sabedoria)

Filosofia como instrução reveladora das coisas de Deus, que leva ao entendimento do mistério da salvação. Nas Escrituras pode ser identificado o gnosticismo baseado na filosofia helenistíca e nos sábios judeus, em quem se originaram os "cultos de mistérios" dos místicos. Os gnósticos não priorizavam apenas o "conhecimento", mas a mortificação da carne, o que os dificultava crer que Deus veio em carne por meio de Jesus Cristo.

Foi uma das heresias mais perigosas dos dois primeiros séculos da Igreja. Não eram fáceis de definir, por serem demasiadas variadas suas doutrinas, que diferiam de lugar para lugar, nos diversos períodos. Surgiram na Ásia Menor, e eram como que um enxerto do Cristianismo no paganismo. Criam que do Deus supremo emanava um grande número de divindades inferiores, algumas benéficas e outras malignas. Criam que por meio dessas divindades o mundo foi criado com a mistura do bem e do mal. Interpretavam as Escrituras de forma alegórica, de modo que cada declaração das Escrituras significava aquilo que ao intérprete parecesse mais acertado. Eles diziam possuir capacidades e conhecimentos espirituais superiores que os cristãos não possuíam. Os gnósticos seguem líderes divulgadores de conhecimento espiritual que transcendem o entendimento normal, geralmente considerado secreto.

Seus ensinamentos sobre a criação, o Cristo e a salvação eram tão radicalmente contrários à pregação apostólica e ao ensino dos Pais da Igreja, que as igrejas do Império Romano desenvolveram confissões de fé correta a serem professadas por todos os convertidos, chamados de Credos.

A doutrina central do gnosticismo, era que o espírito é inteiramente bom e a matéria, inteiramente má. Desse dualismo antibíblico fluíram cinco erros importantes:

1. O corpo do homem, que é matéria, é mau por essa mesma razão. Deve ser diferenciado de Deus, que é totalmente espírito e, por isso mesmo totalmente bom.

2. A salvação é escapar do corpo, sendo obtida mediante a fé em Cristo, mas por meio de conhecimento especial.

3. A verdadeira humanidade de Cristo era negada de duas maneiras: 1) alguns diziam que Cristo somente parecia ter corpo, e essa teoria era chamada de docetismo, do grego dokeo (parecer); 2. Outros diziam que o Cristo divino uniu-se ao homem Jesus no batismo, abandonando-o antes da morte, teoria essa chamada cerintismo, segundo o nome do seu porta-voz mais destacado, Cerinto. Essa forma de gnosticismo é combatida por João em 1João 1.1 “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo da vida”; e em 1João 4.2-3 “Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não é de Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está no mundo”.

4. Como o corpo era considerado mau, devia ser tratado com rigor. Essa forma ascética de gnosticismo é combatida por Paulo em parte da carta aos Colossenses, como em 2.20-23 “Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies (as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne”.

5. Paradoxalmente, esse dualismo também levava ao desregramento moral. O raciocínio era que, como a matéria era considerada má, a violação das leis de Deus não era de consequência moral.

O gnosticismo com o qual o Novo Testamento lidava era uma forma primitiva dessa heresia, não o sistema desenvolvido e já complexo dos séculos II e III. Para Paulo o gnosticismo era "engodo de humildade" (Cl 2.18). Em confronto com o cristianismo dos apóstolos, os mestres gnósticos são falsos irmãos e causam divisões na igreja (Jd 19), pois se desviaram da graça de Deus (Jd 4).Além da forma encontrada em Colossenses e nas cartas de João, alguma familiaridade com o gnosticismo primitivo se vê refletida em 1 e 2Timóteo, em Tito, em 2Pedro e talvez em 1Coríntios.

Atualmente o gnosticismo ressurge sob o disfarce de “cristianismo esotérico”, como, por exemplo, a Ciência Cristã, que estabelece forte distinção entre Jesus e o Cristo, negando qualquer encarnação real, ímpar e ontológica de Deus no homem Jesus.

EBIONISMO

Os ebionistas surgiram no começo do segundo século. Seu nome, derivado do grego “ebionaioi”, tem seu correspondente no idioma hebraico “ebionim”, que significa “os pobres”. Os ebionitas eram judeus crentes que não deixaram os preceitos judaicos e também aceitavam Jesus apenas como Homem. Essa seita tinha um ensino exagerado sobre pobreza; rejeitava os escritos do apostolo Paulo, porque nas epístolas ele reconhecia os gentios convertidos como cristãos. Eles acreditavam que a lei mosaica era a maior expressão da vontade de Deus e continuava válida para o homem. O maior ataque ao cristianismo primitivo estava relacionado à interpretação que tinham a respeito da divindade de Jesus e de seu nascimento virginal. Para eles, Jesus era o filho de José e Maria, que observou a Lei de forma especial, sendo assim escolhido por Deus para ser o Messias; assim logicamente Jesus não era eterno, logo não era Deus. Aprovavam os ensinos do evangelho de Mateus. Eles insistiam que os cristãos, tanto gentios como judeus, ainda continuavam sob o domínio da Lei de Moisés e que não havia salvação fora da circuncisão e do cumprimento da Lei.

Os ebionitas eram considerados apóstatas pelos judeus não-cristãos, e também não contavam com a simpatia dos cristãos-gentios, os quais depois do ano 70 constituíam a maior parte da Igreja. Nenhum concílio condenou oficialmente o ebionismo, mas Tertuliano, Irineu, Eusébio e Orígenes foram opositores de grande peso a essa heresia. Os ebionitas diminuíram gradualmente, no segundo século.

DOCETISMO

O docetismo tem grande ligação com o gnosticismo, para quem o mundo material era mau e corrompido. O nome vem do gregodokeo e significa “parecer”. Os docetistas defendiam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão e sua crucificação teria sido apenas aparente.Para os adeptos dessa heresia, a matéria é ruim e que o espírito não se envolveria com a matéria, que é o princípio do pecado, por isso Cristo parecia estar numa matéria carnal, mas na verdade não estava, era ilusório.

Na concepção desse movimento herético, sendo Cristo bom e a matéria essencialmente má, não haveria possibilidade de união entre Ele e um corpo terreno. Portanto os docetistas negavam a humanidade de Cristo, dizendo que Ele parecia ser humano, mas era divino. Afirmavam que o corpo de Jesus não passava de um fantasma, que sofrimento e morte eram apenas meras aparências. Se sofria, então não podia ser Deus; ou era verdadeiramente Deus e então não podia sofrer. Não houve uma condenação oficial a esse pensamento, mas Irineu e Hipólito foram os opositores dessa idéia filosófica grega e pagã da época.

MONTANISMO

Surgido na Frígia, após 155, os montanistas, assim chamados por causa de seu fundador se chamar Montano, quase não podiam ser incluídos entre as seitas hereges, apesar de seus ensinos terem sido condenados pela Igreja. Os montanistas eram puritanos, e exigiam que tudo voltasse à simplicidade dos primitivos cristãos. Eles criam no sacerdócio de todos os verdadeiros crentes, e não nos cargos do ministério. Observavam rígida disciplina na igreja. Consideravam o dom de profecia como um privilégio dos seus discípulos. Infelizmente, como geralmente acontece em movimentos dessa natureza, ele caiu para o extremo e concebeu fanáticas e equivocadas interpretações da Bíblia.

Montano não tinha cargo eclesiástico e percorria os lugares acompanhado de duas mulheres, Priscila e Maximila, promovendo o que chamou de "Nova Profecia", conclamando pessoas para a volta de Cristo. Isso era feito através da voz do "Parácleto", uma manifestação profética que falava através das duas mulheres na primeira pessoa. Montano colocou a si mesmo como parácleto através de quem o Espírito Santo falava à Igreja, do mesmo modo que falara aos apóstolos. Ele tinha uma escatologia extravagante. Acreditava que o reino celestial de Cristo seria instaurado brevemente em Pepuza, na Frígia, e que ele teria um papel de proeminência nesse reino. Para que estivessem preparados para aquele acontecimento, ele e seus seguidores praticavam um rigoroso ascetismo. Não se permitia novo casamento se um dos cônjuges morresse.

A Igreja reagiu as essas extravagâncias condenando o movimento. O Concílio de Constantinopla, em 381, declarou que os montanistas deviam ser considerados pagãos. No entanto Tertuliano, um dos maiores Pais da Igreja, achou as doutrinas do novo grupo atraentes, e tornou-se montanista. O movimento foi muito forte em Cartago no Oriente. O montanismo representou o protesto perene suscitado dentro da Igreja quando se aumenta a força da instituição e se diminui a dependência do Espírito de Deus.

MONARQUIANISMO

Essa designação foi dada pela primeira vez por Tertuliano. Como a defesa doutrinária dos apologetas, dos Pais antignósticos e dos Pais alexandrinos sobre o Filho de Deus, não satisfez as dúvidas teológicas de todos na época e a teologia cristológica ainda era nova e sem consistência, surgiam assim novos pensamentos.

O monarquianismo surgiu no século III, e a grande dificuldade era combinar a fé em Deus único (monoteísmo) com a nova fé cristã, no qual Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Essa dificuldade era complicada de resolver, pois de um lado havia aqueles que criam que o Filho era uma pessoa divina, parecendo ferir a idéia monoteísta, e de outro lado havia os que defendiam a idéia de que o Filho era subordinado ao Pai, e isso feria a deidade de Cristo. Esse conflito teológico originou dois tipos de pensamento: o monarquianismo dinâmico, conhecido também como adocionismo, e o monarquianismo modalista.

Monarquianismo dinâmico

Desenvolvida por Teodoto de Bizâncio, foi uma tentativa de resguardar unidade de Deus. Essa idéia tinha traços do ebionismo, que pregava ser Jesus apenas homem. Teodoto, homem culto que comerciava couro, pregava contra a divindade do Filho, negava a afirmação de que Jesus Cristo é Deus, achava mais seguro afirmar que Jesus era um mero homem. Não negava o nascimento virginal, mas esse nascimento não divinizava Jesus. Ele continuava sendo um mero homem, apesar de ser justo.

Teodoto separou a vida de Jesus em tempos, ou seja, até o batismo Jesus viveu seu cotidiano como todo homem vive, com a diferença de ter sido extremamente virtuoso. Em seu batismo, o Espírito Santo desceu sobre Ele, e a partir daquele momento Ele passou a operar milagres sem contudo tornar-se divino. Essa idéia recebeu o nome de dinamismo. Jesus então, era um profeta e não Deus, e um profeta com unção divina (assim como Elias e Eliseu). Somente após a ressurreição Jesus Cristo uniu-se a Deus. Ensinava uma Trindade de manifestação de formas e não de essência. Deus se manifestou com Pai no Antigo Testamento, depois como Filho para redimir o homem e como Espírito Santo após a ressurreição de Cristo. Portanto não havia três pessoas em Deus, mas três manifestações.

O papa Vítor excomungou Teodoto, mas sua idéia não teve como ser banida, tanto que Paulo de Samosata que foi bispo de Antioquia por volta de 260 d.C. defendeu essa forma de monarquianismo. Paulo de Samosata foi um pouco mais longe do que Teodoto e afirmou que o Filho, é identificado por sua sabedoria, mas um adjetivo que qualquer homem pode ter, ou seja, diminuiu ainda mais a deidade de Jesus Cristo. O que aconteceu foi que a sabedoria divina habitou no homem Jesus, e isso não significou que Ele seja uma pessoa divina. Paulo de Samosata, no sínodo de Antioquia em 268, foi declarado herege, mas de alguma forma suas idéias surgiram mais tarde em alguns ramos da teologia liberal.

Monarquianismo modalista

Os monarquistas modalistas negavam a humanidade de Cristo, como fizeram os gnósticos. Viam nele apenas um modo de manifestação do Deus único, em que não reconheciam nenhuma distinção de pessoas. Qualquer sugestão de que a Palavra ou Filho era outro que não o Pai, ou então uma pessoa distinta dele, parecia levar inexoravelmente a blasfêmia de dois deuses. Essa é a outra forma de monarquianismo, ou seja, é o outro modo de apologizar o unitarismo divino. O modalismo (como também era conhecido) era diferente do adocinismo, que dizia que Jesus era adotado por Deus, pregava que Jesus era Deus, mas se manifestara como criador do mundo (Pai), depois viera a terra se encarnando em Jesus para salvar o homem e hoje Ele se manifesta na pessoa do Espírito Santo. Para o modalismo há uma só pessoa, que se manifestou de forma diferente e com nomes diferentes, o Pai. A idéia do monoteísmo judaico não fôra ferida. O primeiro teólogo a declarar formalmente a posição monárquica foi Noeto de Esmirna, que nos últimos anos do segundo século, foi duas vezes convocado pelos presbíteros daquela cidade a fim de prestar esclarecimentos. O cerne da pregação de Noeto era a enérgica afirmação de que havia apenas um Deus, o Pai.

No Ocidente seus discípulos ficaram conhecidos com patripassionistas, isto é, a idéia de que foi o Pai quem sofreu e vivenciou as outras experiências humanas de Cristo. Portanto, teria sido o próprio Pai quem entrou no ventre da virgem, tornando-se por assim dizer, seu próprio filho, o qual sofreu, morreu e ressuscitou. Desse modo, essa pessoa singular unia em si mesma atributos mutuamente incompatíveis, sendo invisível e também visível, impassível e também passível. Já no Oriente, este modalismo mais refinado tornou-se conhecido como sabelianismo, em função do nome do seu autor, Sabélio. Recebendo uma estrutura mais sistemática e filosófica por parte de Sabélio, foi levada para Roma perto do final do pontificado de Zeferino, sendo veementemente atacada por Hipólito. Sabélio negou a Trindade ao afirmar que não há três pessoas e sim uma só pessoa que se manifesta de maneiras diferentes. Ele empregou a analogia do sol, um objeto único que irradia tanto calor quanto luz; o Pai era por assim dizer, a forma ou essência, sendo o Filho e o Espírito Santo os modos de auto-expressão do Pai. Em 261 d.C. as doutrinas de Sabélio foram rejeitadas e condenadas por negar a distinção das pessoas divinas na tentativa de resgatar uma teologia unicista para o cristianismo.

ARIANISMO

Os arianos foram seguidores de um presbítero de nome Ário. Ele afirmava que o Verbo (Jesus Cristo) não era igual ao Pai, mas uma grande criatura. Segundo Ário, Cristo é o primeiro dos seres criados através de quem todas as outras coisas foram feitas. Em antecipação à glória que haveria de ter no final, Ele é chamado de Logos, o Filho unigênito de Deus. Dizia Ário que Jesus podia ser chamado de Deus, apesar de não ser Deus na realidade plena subentendida pelo termo. Diante desse fato, Alexandre, bispo de Alexandria, convocou um sínodo, que o depôs do presbiterato e o excluiu da comunhão da Igreja. Logo depois, o imperador Constantino ordenou que todos os bispos cristãos comparecessem para deliberar a respeito de pessoa de Cristo e da Trindade em uma reunião que ele presidiria em Nicéia, em 325 d.C. A grande assembléia realizou-se com a presença de 318 bispos católicos, e somente 22 eram declaradamente arianos desde o inicio. O próprio Ário não obteve licença para participar de concílio por não ser bispo. Foi representado por Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia. Alexandre dirigiu o processo jurídico contra Ário e o arianismo, sendo auxiliado por seu jovem assistente chamado Atanásio, que viria a sucedê-lo no bispado de Alexandria poucos anos depois. Neste concílio foi formulado o documento chamado de Credo de Nicéia, onde os ensinos de Ário foram condenados.

MANIQUEÍSMO

De origem persa, foram chamados por esse nome, em razão de seu fundador ter o nome de Mani, o qual foi morto em 276, por ordem do governo persa. O ensino dos maniqueus dava ênfase a este fato: "O universo compôe-se do reino das trevas e do reino da luz, e ambos lutam pelo domínio da natureza e do próprio homem". Recusavam a Jesus, porém criam em um "Cristo Celestial". Eram severos quanto a obediência ao ascetismo, e renunciavam ao casamento. O maniqueísmo exaltava a tal ponto a vida ascética que consideravam o instinto sexual pecado e enfatizavam a superioridade do estado civil do solteiro. Segundo sua doutrina, o homem primitivo surgiu por emanação de um ser que por sua vez era uma emanação superior do chefe do reino da luz. Oposto ao reino da luz, havia o reino das trevas, que enganara o homem primitivo fazendo com que ele se tornasse um ser que misturava luz e trevas. A alma do homem ligava-o com o reino da luz, mas seu corpo o levava a ser escravo do reino das trevas. A salvação era uma questão de libertar a luz da alma que estava escravizada à matéria do corpo. Essa liberação poderia ser conseguida através da exposição à luz, Cristo. A elite, ou seja, os perfeitos, constituíam a casta sacerdotal. 

O maniqueísmo exerceu ainda muita influência por bom tempo após a morte de Mani. Um pensador do porte de Agostinho, em sua busca pela verdade, foi discípulo do maniqueísmo durante 12 anos. Depois de sua conversão, Agostinho se empenhou em refutar energicamente essa filosofia no livro "Contra os Maniqueístas". Os maniqueus foram perseguidos tanto por imperadores pagãos, como também pelos cristãos. 

DONATISMO

O Donatismo foi uma heresia que surgiu no seio da igreja nascente e que provocou um verdadeiro cisma entre os fiéis em 312 d.C. O líder principal e o teólogo incentivador chamavam-se, ambos, Donato. Julgavam-se assim os donatistas, como sendo os autênticos herdeiros da verdadeira igreja. Isso os tornava conservadores em termos litúrgicos, sendo assim, nomeavam seus próprios bispos, além de incentivarem o martírio voluntário como meio eficaz de apagar os pecados cometidos após o batismo. Opunham-se ao monarquismo e continuavam usando a Bíblia africana, enquanto a igreja de Roma seguia a Vulgata. Por essas razões a “verdadeira igreja” era donatista, pois só ela se conservava “santa e imaculada”.

PELAGIANISMO

O Pelagianismo surgiu inicialmente para se contrapor ao gnosticismo maniqueísta, tendo posteriormente seus ensinos violentamente criticados por Agostinho de Hipona e seu amigo Jerônimo, tradutor e comentarista bíblico que morava em Belém. Seu principal expoente foi Pelágio, para quem o homem sozinho podia praticar o bem isento da graça auxiliadora de Deus, uma vez que não existia o pecado original no tocante à culpa herdada, portanto era também contra a remissão de pecados. Para ele o sacrifício de Cristo não teve objetivo.

O historiador Bettenson atribuiu a Pelágio e a Celéstio, discípulo de Pelágio as seguintes doutrinas:

1. Adão foi criado mortal e teria morrido com pecado ou sem pecado;

2. O pecado de Adão prejudicou somente a ele, e não a raça humana;

3. A lei conduz ao reino tão bem quanto o Evangelho;

4. Houve homens sem pecado antes da vinda de Cristo;

5. As crianças recém-nascidas estão nas mesmas condições de Adão antes da queda;

6. Não é através da queda ou morte de Adão que morre toda a raça humana, nem através da ressurreição de Cristo que ela ressurgirá.

Celéstio foi combatido no sínodo de Cartago, em 412 d.C., e condenado. Pelágio foi combatido na Palestina por Jerônimo, mas outro sínodo em 415 d.C. aprovou sua doutrina. A Igreja Africana negou seu reconhecimento às decisões da Palestina e, dois sínodos, em 416 d.C. novamente condenaram Celéstio. Entretanto morrendo o Papa Inocêncio, seu sucessor, o Papa Zósimo, deu apoio a Pelágio e Celéstio. O concílio de Cartago, porém, definitivamente condenou as ideias pelagianas. Mas uma vez conseguiram-se editos imperiais contra os hereges e finalmente Zósimo concordou com o ponto de vista africano. Muitos bispos, porém subscreveram com reticências e dezoito deles foram depostos.

Respondendo aos ensinos de Pelágio a respeito do pecado, do livre arbítrio e da graça. Agostinho desenvolveu sua própria teologia antipelagiana. Em algumas de suas obras, verificamos a defesa da fé por parte desse cristão. São obras de sua autoria: Do Espírito e da Letra (412), Da natureza e da graça (415), Da graça de Cristo e do pecado original (418), Da graça e do livre arbítrio (427) e Da predestinação dos santos (429). Além disso, formou suas próprias opiniões sobre essas relevantes questões em muitos outros escritos, principalmente em sua obra prima, A Cidade de Deus, que concluiu pouco antes de sua morte em 440 d.C.

CONCLUSÃO

Todas as heresias que surgiram e que surgem, saíram e saem de dentro da Igreja. Então a coisa acontece sempre da Igreja para fora e nunca de fora para a Igreja. Sempre há pessoas ou grupos querendo interpretar a Bíblia de uma maneira que seja adequado a sua vontade.

Autor: J. DIAS

Fontes:

História da Igreja Cristã - Editora Vida

Módulo 2 de Teologia da Faculdade Teológica Betesda

Bíblia NVI de Estudos - Editora Vida

Dicionário Bíblico - Editora Didática Paulista

O Cristianismo Através dos Séculos - Editora Vida Nova

Questões Teológicas de Ontem e Hoje - Editora Reflexão
Como Conhecer Uma Seita - Marcio Falcão - Editora O Arado

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