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Perseguição aos cristãos no reinado de Nero.

O Cristianismo teve seu nascedouro no Judaísmo, sendo que os primeiros cristãos, na sua maioria judeus, não criam que faziam parte de uma nova expressão religiosa, apenas criam que o Messias aguardado pelo Judaísmo já tinha vindo na pessoa de Jesus Cristo, da mesma maneira que o judeus ortodoxos não viam o Cristianismo como uma nova religião, mas uma manifestação heterodoxa dentro do Judaísmo, por este motivo os judeus foram os primeiros perseguidores do Cristianismo.
O Império Romano via esta questão como um conflito entre os judeus, e deixava para os mesmos a resolução destas questões.
Sendo Galião procônsul da Acaia, os judeus levantaram-se unanimemente contra Paulo e conduziram-no ao tribunal, dizendo: "este indivíduo procura persuadir os outros a adorar a Deus de maneiro contrária à Lei". Paulo ia abrir a boca, quando Galião retrucou aos judeus: "Se se tratasse de delito ou ato perverso, ó judeus, com razão eu vos atenderia. Mas se são questões de palavras, de nomes, e da vossa própria Lei, tratai vós mesmos disso! Juiz dessas coisas eu não quero ser". E despedi-os do tribunal.[1]
Os romanos só interviam para restabelecer a ordem quando este conflito gerava um tumulto demasiado: A cidade toda agitou-se e houve aglomeração do povo. Apoderaram-se de Paulo e arrastaram-no para fora do Templo, fechando-se imediatamente as portas. Já procuravam matá-lo, quando chegou ao tribuno da coorte a notícia: "Toda jerusalém está amotinada!" Ele imediatamente destacou soldados e centuriões e arremeteu contra os manifestantes. Estes, à vista do tribuno, e dos soldados, cessaram de bater em Paulo.[2]

Com a expansão do Cristianismo entre os gentios, estes passaram a ser maioria na cristandade, por consequência o Cristianismo faz uma ruptura final com o Judaísmo, e passa a ser considerado por Roma como uma religião independente.

O rápido crescimento do Cristianismo chamou a atenção do poder Imperial, seu conteúdo doutrinário era contrário a ordem social estabelecida, pois se negavam a participar do culto ao Imperador e aos deuses romanos, culto este considerado essencial para o bem estar do Império, adorando a Jesus Cristo como Rei Eterno, seu ensinamento de igualdade entre os homens colocava escravos e livres em igualdade, pois o escravo podia tornar-se líder da igreja. Não havia dentro da igreja a divisão: senhor e escravo, os dois eram tratados de forma igual.

Suas reuniões à portas fechadas levantavam suspeitas de conspiração contra o Estado, eram acusados de incesto, de canibalismo e de práticas desumanas, a ponto de serem acusados de infanticídio em adoração ao seu Deus[3]. A saudação com o ósculo santo (beijo) foi transformado em forma de conduta imoral.

Por estes motivos: o Cristianismo parecia um ensino desleal e perigoso para o Estado e para a sociedade. Assim, os cristãos foram acusados de anarquistas, sacrílegos, ateus e traidores. O governo, então, hostilizava o Cristianismo porque o considerava uma ameaça ao Estado supremo.[4]

Nero (37-68 d.C.), assumiu o poder em outubro do ano 54 d.C., se tornando o primeiro Imperador romano a perseguir o Cristianismo, no início de seu reinado fez várias leis que favoreciam os mais pobres e necessitados, mais gradualmente se deixou levar por suas vaidades, sendo que dez anos após assumir o reinado sua popularidade era baixa, sendo desprezado por boa parte da população e também pelos intelectuais, classe que ambicionava pertencer mesmo sem ter os dons necessários para isso.[5]

NERO
Na noite de 18 de julho do ano 64, a cidade de Roma foi consumida por um grande incêndio, que durou seis dias e sete noites, destruindo dez dos quatorze bairros da cidade, o próprio Imperador abriu seus jardins para abrigar os que haviam ficado sem refúgio. 

Os historiadores antigos não são unânimes em afirmar que Nero foi o mandante do incêndio de Roma, para o historiador romano Suetônio (69-122d.C.), o Imperador objetivava a destruição da cidade, pois queria construir uma cidade mais moderna e bela com o seu nome: "Nerópolis" e que o incêndio foi contemplado por ele do alto da torre de Mecenas, extasiado - confessava - com a "beleza do fogo"; e cantou com a sua roupagem de teatro, A Ruína de Ílion[6], provavelmente um poema de sua autoria.

O INCÊNDIO DE ROMA

O historiador Tácio, que provavelmente se encontrava então em Roma, conta vários dos rumores que circulavam, e ele mesmo parece dar a entender a sua opinião, pela qual o incêndio havia começado acidentalmente num depósito de azeite.[7]

Em meio a desordem e ao sofrimento a população exigia que o culpado por tal catástrofe fosse encontrado e punido, então logo começou a propalar-se que o imperador, em seus desatinos de poeta louco, havia incendiado a cidade para que o sinistro lhe servisse de inspiração.[8]

Mesmo fazendo todos os esforços para inocentar-se, enquanto não encontrasse um culpado, a população continuaria suspeitando de sua pessoa. Quando o incêndio terminou, foi observado que dois dos bairros que não haviam queimado, eram zonas da cidade em que havia mais judeus e cristãos[9], então se aproveitando do clima de hostilidade já existente contra os cristãos, o imperador, por conveniência, passa a acusá-los. Suetônio afirma que Quanto aos cristãos, espécie de homens afeitos a uma superstição nova e malígna, infligiram-se-lhes suplícios.[10]

O historiador pagão Tácito (55-120 d.C) relata o que aconteceu: Apesar de todos os esforços humanos, da liberalidade do imperador e dos sacrifícios oferecidos aos deuses, nada bastava para apartar as suspeitas nem destruir a crença de que o fogo havia sido ordenado. Portanto, para destruir esse rumor, Nero fez aparecer como culpado os cristãos, uma gente odiada por todos por suas abominações, e os castigou com mui refinada crueldade. Cristo, de quem tomam o nome, foi executado por Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério. Detida por um instante, esta superstição daninha apareceu de novo, não somente na Judéia, onde estava a raiz do mal, mas também em Roma, esse lugar onde se narra e encontram seguidores de todas as coisas atrozes e abomináveis que chegam desde todos os rincões do mundo. Portanto, primeiro forma presos os que confessaram (ser cristãos), e baseadas nas provas que eles deram foi condenada uma grande multidão, ainda que não os condenaram tanto pelo incêndio mas sim pelo seu ódio a raça humana. ( Anais, 15:44).[11]

Enquanto o povo gritava: Christianos ad leonem! (Os cristãos aos leões!), estes eram presos e conduzidos para as arenas.


Apesar de acreditar na inocência dos cristãos as palavras de Tácito refletem a hostilidade que a população romana tinha pelos mesmos, o historiador demonstra que o castigo imposto pelo Imperador era excessivo sendo feito não por uma questão de justiça mas para satisfazer seu próprio capricho.

Além de matá-los (aos cristãos) fê-los servir de diversão para o público. Vestiu-os em peles de animais para que os cachorros os matassem a dentadas. Outros foram crucificados. E a outros acendeu-lhes fogo ao cair da noite, para que a iluminassem. Nero fez que se abrissem seus jardins para esta exibição, e no circo ele mesmo ofereceu um espetáculo, pois se misturava com as multidões, disfarçado de condutor de carruagem. Tudo isso fez com que despertasse a misericórdia do povo, mesmo contra essas pessoas que mereciam castigo exemplar, pois via-se que eles não eram destruídos para o bem público, mas para satisfazer a crueldade de uma pessoa. (Anais 15:44) [12]
TRECHO DO FILME QUO VADIS, ONDE OS CRISTÃOS SÃO COLOCADOS EM UMA ARENA REPLETA DE LEÕES PARA A DIVERSÃO DO POVO ROMANO

O historiador cristão Eusébio de Cesaréia (263-340 d.C.) afirma que durante esta perseguição Paulo foi decapitado em Roma[13], e Pedro foi crucificado de cabeça para baixo, pois pediu para si esse sofrimento.[14] Para fugir da perseguição os cristãos começaram a se refugiar nas catacumbas de Roma. Embora tenha sido cruel, esta perseguição ficou restrita a cidade de Roma, não alcançando as províncias do Império.

CRUCIFICAÇÃO DO APÓSTOLO PEDRO

No ano 68 após uma revolta popular, e ter sido deposto pelo senado, Nero se suicida, seguindo então um período de desordem, tão grande que os historiadores chamam o ano de 69 "o ano dos quatro imperadores". Por fim Vespasiano pode tomar as rédeas do estado e logo o sucedeu o seu filho Tito, o mesmo que no ano 70 havia tomado e destruído Jerusalém. Em todo este período, o Império parece ter esquecido os cristãos, cujo número continuava aumentando silenciosamente.[15]

Notas:

A elaboração deste artigo contou com a colaboração da minha esposa, que também é Bacharel em Teologia.

[1] Atos dos Apóstolos 18.12-16

[2] Idem, 21.30-32

[3] "Entendendo equivocadamente o significado de "comer e beber" os elementos representativos do corpo e do sangue de Cristo, o vulgo popular logo depreendeu que os cristãos matavam e comiam crianças em sacrifício ao seu Deus." CAIRNS, 1995,72

[4] NICHOLS, 2008, 42.

[5] GONZÁLEZ, 2009, 52

[6] SUETÔNIO, 2006, 309

[7] GONZÁLEZ, 2009, 54

[8] Idem

[9] Idem

[10] SUETÔNIO, 2006, 290

[11] GONZÁLEZ, 2009, 54

[12] Idem, 56

[13] História Eclesiástica, Livro 2,capítulo XXV

[14] Idem, Livro 3, capítulo I

[15] GONZÁLEZ, 2009, 57-58

Referências Bibliográficas:

Bíblia de Jerusalém. 3ª impressão, São Paulo: Paulus, 2004.

CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos, Uma história da Igreja Cristã. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.

CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica, Os primeiros quatro séculos da Igreja Cristã. 7ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2007.

GONZÁLEZ, Justo L. A Era dos Mártires, Uma História Ilustrada do Cristianismo vol.1, 1 ed. São Paulo: Vida Nova, 2009.

NICHOLS, Robert H. História da Igreja Cristã, 13ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

SUETÔNIO, A Vida dos Doze Césares, Coleção a Obra Prima de Cada Autor, Série Ouro, vol. 32, Texto Integral, 1 ed. São Paulo: Martin Claret, 2006.
Fonte:http://peregrinodecristo.blogspot.com

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