"Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo:
Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já
adulterou com ela. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e
lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não
seja todo o teu corpo lançado no inferno. E se a tua mão direita te faz
tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos
teus membros e não vá todo o teu corpo para o inferno".
Novamente os rabinos estavam tentando limitar o alcance do mandamento:
Não adulterarás. Embora o pecado de cobiçar a mulher de outro homem
esteja incluído no décimo mandamento, que trata da cobiça, eles
evidentemente achavam mais confortável ignorá-lo. No seu ponto de vista,
eles e seus alunos guardavam o sétimo mandamento contanto que evitassem
o ato do adultério propriamente dito. Assim, davam uma definição
convenientemente estreita ao pecado sexual e uma definição
convenientemente ampla à pureza sexual.
Mas Jesus ensinou diferente. Ele estendeu as implicações da
proibição divina. Antes, afirmou que o verdadeiro significado da ordem
divina era muito mais amplo do que á mera proibição de atos de
imoralidade sexual. Assim como a proibição do homicídio incluía o
pensamento colérico e a palavra insultuosa, a proibição do adultério
incluía o olhar concupiscente e a imaginação. Podemos cometer
assassinato com nossas palavras; podemos cometer adultério em nossos
corações ou mentes. Na verdade, (v. 28) qualquer que olhar para uma
mulher com intenção impura, no coração já adulterou com ela.
Talvez seja necessário destacar dois pontos antes de prosseguirmos. Não
há aqui a mais leve sugestão de que as relações sexuais naturais dentro
dos votos do casamento não sejam algo lindo que Deus nos deu. Podemos
agradecer a Deus pelos Cantares de Salomão, que foram incluídos no cânon
das Escrituras, pois ali não encontramos puritanismo vitoriano, mas,
pelo contrário, o prazer desinibido de dois amantes, o esposo e a
esposa, um com o outro.
Os ensinamentos de Jesus aqui referem-se ao sexo ilegal fora do
casamento, praticado por pessoas casadas ou solteiras. Ele não nos
proíbe de olhar para uma mulher, mas, sim, de fazê-lo
concupiscentemente. Todos nós sabemos a diferença que há entre o olhar e
o cobiçar.
Isto nos leva ao segundo ponto. A alusão de Jesus é a todas as formas de
imoralidade. Argumentar que a referência apenas diz respeito a um homem
cobiçando uma mulher e não vice-versa, ou que só se refere ao homem
casado e não ao solteiro, uma vez que o transgressor está cometendo
"adultério" e não "fornicação", é incorrer na mesma casuística que Jesus
condenou nos fariseus. Ele enfatizou que toda e qualquer prática sexual
que é imoral no ato, também é imoral no olhar e no pensamento.
O que é particularmente importante é assimilar a sua equação de olhar
concupiscentemente para uma mulher e cometer adultério com ela no
coração. É esta relação entre os olhos e o coração que leva Jesus, nos
dois versículos seguintes, a dar algumas instruções muito práticas sobre
como manter a pureza sexual. O argumento é o seguinte: se olhar
concupiscentemente é cometer adultério no coração, em outras palavras,
se o adultério do coração é o resultado do adultério dos olhos (os olhos
do coração sendo estimulados pelos olhos da carne), então a única
maneira de tratar do problema é no início, isto é, no nosso olhar. Jó, o
justo, declarou que já tinha aprendido esta lição. "Fiz aliança com
meus olhos", ele disse,"como, pois, os fixaria numa donzela?" Depois ele
prossegue falando a respeito do seu coração: "Se o meu coração segue os
meus olhos ... Se o meu coração se deixou seduzir por causa de mulher .
. .", ele reconheceria que tinha pecado e que merecia o juízo de Deus.
Mas Jó não fizera tais coisas. O controle do seu coração se devia ao
controle dos seus olhos.
Este ensinamento de Jesus, confirmado na experiência de Jó, continua
sendo verdade atualmente. Atos vergonhosos procedem de pensamentos
vergonhosos, e a imaginação se inflama por causa da indisciplina dos
olhos. Nossa vivida imaginação (uma das muitas faculdades que distinguem
os humanos dos animais) é um precioso dom de Deus. Nenhuma das artes do
mundo e poucas das mais nobres realizações teriam sido possíveis se não
fosse ela. A imaginação enriquece a qualidade da vida. Mas todos os
dons de Deus precisam ser usados com responsabilidade; podem facilmente
ser aviltados e abusados. Isto certamente se aplica à nossa imaginação.
Duvido que os seres humanos seriam vítimas da imoralidade, se antes não
abrissem as comportas da paixão através dos seus olhos. Do mesmo modo,
sempre que os homens e as mulheres aprendem a controlar o sexo na
prática, é porque antes aprenderam a fazê-lo nos olhos da carne e do
pensamento.
Este pode ser um momento apropriado para mencionar de passagem como as
jovens se vestem. Seria tolo legislar sobre modas, mas sábio (creio eu) é
pedir-lhes que façam esta distinção: uma coisa é fazer-se atraente;
outra coisa é fazer-se deliberadamente sedutora. As jovens sabem qual ê a
diferença; e nós, os homens, também.
Texto de John Stott, extraído do livro "Contracultura Cristã" pagina 42, ABU Editora Via:http://www.julianofabricio.com
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