Ateísmo, num sentido amplo, é a rejeição ou ausência da crença na existência de divindades e outros seres sobrenaturais. O ateísmo é contrastado com o teísmo, que em sua forma mais geral é a crença de que existe pelo menos uma divindade. Num sentido mais restrito, o ateísmo é precisamente a posição de que não existem divindades.
O termo ateísmo,
proveniente do grego clássico ἄθεος
(transl.: atheos), que significa "sem Deus", foi aplicado com uma
conotação negativa àqueles que se pensava rejeitarem os deuses adorados pela
maioria da sociedade. Com a difusão do pensamento livre, do ceticismo
científico e do consequente aumento do criticismo à religião, a aplicação do
termo foi reduzida em seu escopo. Os primeiros indivíduos a identificarem-se
como "ateus" surgiram no século XVIII.
Os ateus tendem a
ser céticos em relação a afirmações sobrenaturais, citando a falta de evidências
empíricas. Os ateus têm oferecido vários argumentos para não acreditar em
qualquer tipo de divindade. Estes incluem o problema do mal, o argumento das
revelações inconsistentes e o argumento de descrença. Outros argumentos do
ateísmo são filosóficos, sociais e históricos. Embora alguns ateus adotem
filosofias seculares, não há nenhuma ideologia ou um conjunto de
comportamentos a que todos os ateus aderem. Na cultura ocidental, assume-se
frequentemente que os ateus são irreligiosos embora outros ateus sejam
espiritualistas. Ademais, o ateísmo também aparece em certos sistemas
religiosos e de crenças espirituais, como o jainismo, budismo e hinduísmo. O
jainismo e algumas formas de budismo não defendem a crença em deuses, enquanto o hinduísmo mantém o ateísmo como um conceito válido, mas difícil de
acompanhar espiritualmente.
Como as conceções
sobre o ateísmo variam, é difícil determinar quantos ateus existem no mundo
atualmente. Segundo uma estimativa, cerca de 2,3% da população mundial
descreve-se como ateia, enquanto 11,9% descreve-se como não-religiosa. De
acordo com outra estimativa, as taxas de ateísmo auto-relatado são mais altas
em países ocidentais, embora também varie bastante em grau — Estados Unidos
(4%), Itália (7%), Espanha (11%), Reino Unido (17%), Alemanha (20%) e França
(32%).
Etimologia
A palavra do
grego clássico αθεοι (transl.: atheoi), tal como aparece na Epístola aos
Efésios (2:12) no início do século III.
No grego antigo,
o adjetivo ἄθεος
(transl.: atheos) é formado pelo prefixo a, significando "ausência" e
o radical "teu", derivado do grego theós, significando
"deus". O significado literal do termo é, então, "sem
deus".
A palavra passou a indicar de forma mais direta pessoas que não acreditavam em deuses no século V a.C., adquirindo definições como "cortar relações com os deuses" ou "negar os deuses". O termo ἀσεβής (asebēs) passou então a ser aplicado contra aqueles que impiamente negavam ou desrespeitavam os deuses locais, ainda que crendo em outros deuses. Modernas traduções de textos clássicos, por vezes tornam atheos em "ateu". Como substantivo abstrato, também existia ἀθεότης (atheotes), "ateísmo". Cícero traduziu a palavra do grego para o latim como atheos. O termo era frequentemente usado pelas duas partes, no sentido pejorativo, no debate entre os primeiros cristãos e os helênicos.
Durante os séculos XVI e XVII, a
palavra "ateu" ainda era reservada exclusivamente para a polêmica … O
termo "ateu" era um insulto. Não ocorreria a alguém autodenominar-se
ateu.
— Karen
Armstrong
O termo
"ateísmo" foi utilizado pela primeira vez para descrever uma crença
autoconfessa na Europa do final do século XVIII, especificamente denotando
descrença no deus monoteísta abraâmico.
No século XX, a
globalização contribuiu para a expansão do termo para referir-se à descrença em
todos os deuses, embora ainda seja comum na sociedade ocidental descrever o
ateísmo como simples "descrença em Deus." Mais recentemente, tem
havido um movimento em certos círculos filosóficos para redefinir ateísmo como
a "ausência de crença em divindades", e não como uma crença em si
mesmo; esta definição tornou-se popular em comunidades ateístas, embora sua
utilização tenha sido limitada.
Definição
e distinções
Autores discordam
entre si sobre qual a melhor forma de definir e classificar o
"ateísmo", contestando quais as entidades sobrenaturais a que o termo
se aplica, se é uma afirmação por direito próprio ou se é meramente a ausência
de de uma, e se requer uma rejeição consciente, explícita. Uma variedade de
categorias têm sido propostas para tentar distinguir as diferentes formas de
ateísmo.
Abrangência
Alguma da
ambiguidade e controvérsia envolvida na definição do ateísmo resulta da
dificuldade em chegar a um consenso sobre a definição de palavras como
"divindade" e "Deus". A pluralidade de concepções muito
diferentes de deus e de divindades conduz a ideias conflituosas sobre a
aplicabilidade do ateísmo. Os antigos romanos acusavam os cristãos de serem
ateus por não adorarem os seus deuses pagãos. Aos poucos, essa visão caiu em
desuso, pois o teísmo passou a ser entendido como a crença em qualquer
divindade.
No que diz
respeito à gama de fenômenos sendo rejeitados, o ateísmo pode contrapor-se a
qualquer coisa desde a existência de uma divindade à existência de quaisquer
conceitos espirituais, sobrenaturais ou transcendentais, como os do budismo,
hinduísmo, jainismo e taoísmo.
Implícito
versus explícito
Um Diagrama de
Venn mostrando a relação entre as definições de ateísmo fraco/forte e ateísmo
implícito/explícito. Ateus explícitos fortes/positivos/duros (em roxo à
direita) afirmam que "existe pelo menos uma deidade" é uma afirmação
falsa. Os ateus explícitos fracos/negativos/suaves (a azulo à direita) rejeitam
ou distanciam-se da crença de que existe qualquer deidade sem realmente
afirmarem que "pelo menos uma deidade existe" é uma afirmação falsa.
Os ateus implícitos/fracos/negativos (em azul à esquerda) incluiriam pessoas
(como crianças pequenas e alguns agnósticos) que não creem numa deidade, mas
que não rejeitaram explicitamente tal crença. (Os tamanhos no diagrama não são
representativos dos tamanhos relativos dentro de uma população.)
As definições do
ateísmo também variam quanto ao grau de consideração que uma pessoa deve dar à
ideia de deus (ou deuses) para ser considerado um ateu. O ateísmo tem sido por
vezes definido para incluir a simples ausência de crença na existência de
qualquer divindade. Essa definição ampla incluiria os recém-nascidos e outras
pessoas que não tenham sido expostas a ideias teístas. Já em 1772, o Barão
d'Holbach disse que: "Todas as crianças nascem ateias, elas não têm ideia
de Deus". Do mesmo modo, George H. Smith sugeriu em 1979 que: "O
homem que não está familiarizado com o teísmo é ateu porque não acredita em um
deus. Esta categoria também incluiria a criança com a capacidade conceitual de
compreender as questões envolvidas, mas que ainda não tomou conhecimento dessas
questões. O fato de que esta criança não acredita em Deus qualifica-a como
ateu."Smith cunhou o termo "ateísmo implícito" para se
referir à "ausência de crença teísta sem uma rejeição consciente
dela" e "ateísmo explícito" para referir-se à definição mais
comum de descrença consciente. Ernest Nagel contradiz a definição de Smith
sobre o ateísmo como uma mera "ausência de teísmo", reconhecendo
apenas o ateísmo explícito como "ateísmo" verdadeiro.
Positivo
versus negativo
Filósofos como Antony Flew e Michael Martin têm contrastado o ateísmo positivo (forte/duro) com o ateísmo negativo (fraco/suave). O ateísmo positivo é a afirmação explícita de que os deuses não existem. O ateísmo negativo inclui todas as outras formas de não-teísmo. Segundo esta classificação, quem não é um teísta é um ateu negativo ou positivo. Os termos "ateísmo forte" e "ateísmo fraco" são relativamente recentes, enquanto os termos "ateísmo negativo" e "ateísmo positivo" são de origem mais antiga, tendo sido utilizados (de maneira ligeiramente diferente) na literatura filosófica e na apologética católica. Sob esta demarcação do ateísmo, a maioria dos agnósticos podem ser qualificados como ateus negativos.
Enquanto Martin,
por exemplo, afirma que o agnosticismo implica o "ateísmo
negativo", a maioria dos agnósticos vêem o seu ponto de vista como
distinto do ateísmo, o qual podem considerar tão pouco justificado como o
teísmo ou como requerendo igual convicção. A afirmação da intangibilidade
do conhecimento a favor ou contra a existência de deuses é às vezes vista como
indicação de que o ateísmo requer fé. As respostas comuns de ateus contra
este argumento incluem que proposições religiosas não comprovadas merecem tanta
descrença quanto todas as outras proposições não comprovadas e que a
improbabilidade da existência de um deus não implica igual probabilidade para
ambas as possibilidades. O filósofo escocês J.J C. Smart argumenta ainda
que "às vezes uma pessoa que é realmente ateia pode descrever-se, mesmo
apaixonadamente, como agnóstica devido ao irrazoável ceticismo filosófico
generalizado que nos impediria de dizer que sabemos alguma coisa qualquer,
exceto, talvez, as verdades da matemática e da lógica formal."Por
conseguinte, alguns autores ateus como Richard Dawkins preferem distinguir as
posições teísta, agnóstica e ateia segundo a probabilidade que cada uma delas
atribui à afirmação "Deus existe".
[editar]Definição
como impossível ou impermanente
Antes do século
XVIII, a existência de Deus era tão universalmente aceita no mundo ocidental,
que mesmo a possibilidade do ateísmo verdadeiro era questionada. Isso é chamado
de inatismo teísta, a noção de que todas as pessoas acreditam em Deus, desde o
nascimento; dentro desta visão estava a conotação de que os ateus estão
simplesmente em negação.[39]
Existe também uma
posição alegando que os ateus são rápidos a acreditar em Deus em tempos de
crise, que os ateus fazem conversões no leito de morte, ou de que "não
existem ateus nas trincheiras."[40] Alguns defensores dessa posição
afirmam que um dos benefícios da religião é que a fé religiosa permite aos
seres humanos suportarem melhor as dificuldades, funcionando como o "ópio
do povo". Contudo, tem havido exemplos do contrário, entre os quais exemplos
de literais "ateus nas trincheiras."[41]
[editar]Outro uso
do termo "ateísmo positivo"
Como mencionado
acima, os termos "positivo" e "negativo" têm sido usados na
literatura filosófica de uma forma similar aos termos "fraco" e
"forte". No entanto, o livro Ateísmo Positivo, de Goparaju
Ramachandra Rao, publicado pela primeira vez em 1972, introduziu um uso
alternativo do termo.[42] Tendo crescido em um sistema hierárquico com uma base
religiosa, Gora pedia uma Índia secular e sugeriu diretrizes para uma filosofia
ateísta positiva, ou seja, uma que promova os valores positivos.[43] O ateísmo
positivo, definido desta forma, implica coisas como moralmente reto, mostrando
um entendimento de que as pessoas religiosas têm razões para acreditar, sem
proselitismo ou dando lições sobre o ateísmo e defender-se com honestidade, em
vez de com o objetivo de "ganhar" qualquer confronto com os críticos
sinceros.
[editar]Conceitos
filosóficos
Barão d'Holbach,
um defensor do ateísmo no século XVIII. "A fonte da infelicidade do homem
é a sua ignorância da Natureza. A pertinácia com que ele se agarra a opiniões
cegas absorvidas em sua infância, que se entrelaçam com sua existência, o
preconceito consequente que deforma sua mente, que impede sua expansão, que o
torna o escravo da ficção, parece condená-lo ao erro contínuo." O Sistema
da Natureza.[44]
A mais ampla
demarcação da lógica ateísta é entre o ateísmo prático e teórico.
[editar]Ateísmo
prático
Ver artigo
principal: Apateísmo
No ateísmo
prático ou pragmático, também conhecido como apateísmo, os indivíduos vivem
como se não existissem deuses e explicam fenômenos naturais sem recorrer ao
divino. A existência de deuses não é rejeitada, mas pode ser designada como
desnecessária ou inútil; de acordo com este ponto de vista os deuses não dão um
propósito à vida, nem influenciam a vida cotidiana.[45] Uma forma de ateísmo
prático, com implicações para a comunidade científica, é o naturalismo metodológico
- a "adoção tácita ou assunção do naturalismo filosófico no método
científico, aceitando-o ou nele acreditando, totalmente ou não."[46]
O ateísmo prático
pode assumir várias formas:
Ausência de
motivação religiosa — a crença em deuses não motiva a ação moral, a ação
religiosa, ou qualquer outra forma de ação;
Exclusão ativa do
problema dos deuses e da religião da busca intelectual e de ações concretas;
Indiferença — a
ausência de qualquer interesse pelos problemas dos deuses e da religião; ou
Desconhecimento
do conceito de uma divindade.[47]
[editar]Ateísmo
teórico
[editar]Argumentos
ontológicos
Ver artigos
principais: Ateísmo agnóstico e Não cognitivismo teológico
O ateísmo teórico
postula explicitamente argumentos contra a existência de deuses, respondendo a
argumentos teístas comuns, como o argumento teleológico ou a Aposta de Pascal.
Na verdade, o ateísmo teórico é principalmente uma ontologia, precisamente uma
ontologia física.
[editar]Argumentos
epistemológicos
Ver artigos
principais: Ateísmo agnóstico e Não cognitivismo teológico
O ateísmo
epistemológico argumenta que as pessoas não podem conhecer um Deus ou
determinar a existência de um Deus. O fundamento do ateísmo epistemológico é o
agnosticismo, o qual assume uma variedade de formas. Na filosofia da imanência,
a divindade é inseparável do próprio mundo, incluindo a mente de uma pessoa e a
consciência de cada pessoa está bloqueada no sujeito. De acordo com esta forma
de agnosticismo, esta limitação de perspectiva impede qualquer inferência
objetiva, desde a crença em um deus às afirmações de sua existência. O
agnosticismo racionalista de Kant e do Iluminismo só aceita o conhecimento
deduzido com a racionalidade humana. Esta forma de ateísmo afirma que os deuses
não são perceptíveis como uma questão de princípio e, portanto, sua existência
não pode ser conhecida. O ceticismo, baseado nas ideias de Hume, afirma que a
certeza sobre qualquer coisa é impossível, por isso nunca se pode saber da
existência de um Deus. A inclusão do agnosticismo no ateísmo é disputada;
também pode ser considerado como uma visão básica do mundo independente.[45]
Outros argumentos
para o ateísmo, que podem ser classificados como epistemológicos ou
ontológicos, incluem o positivismo lógico e o ignosticismo, que afirmam a falta
de sentido ou ininteligibilidade de termos e frases básicos tais como
"Deus" e "Deus é todo-poderoso." O não cognitivismo
teológico afirma que a declaração "Deus existe" não expressa uma
proposição, sendo antes absurda ou cognitivamente sem sentido. Tem sido
argumentado em ambos os sentidos sobre se tais indivíduos podem ser
classificados em alguma forma de ateísmo ou agnosticismo. Os filósofos A. J.
Ayer e Theodore M. Drange rejeitam ambas as categorias, afirmando que ambos os
campos aceitam a frase "Deus existe" como uma proposição; eles, ao
invés, classificam o não cognitivismo na sua própria categoria.[48][49]
[editar]Argumentos
metafísicos
Ver artigos
principais: Monismo e Fisicalismo
Um autor escreve:
O ateísmo metafísico...inclui
todas as doutrinas ligadas ao monismo metafísico (a homogeneidade da
realidade). O ateísmo metafísico pode ser: a) absoluto - uma negação explícita
da existência de Deus associada com o monismo materialista (todas as tendências
materialistas, tanto nos tempos antigos quanto nos modernos); b) relativo - a
negação implícita de Deus em todas as filosofias que, apesar de aceitarem a
existência de um absoluto, concebem o absoluto como não possuindo qualquer um
dos atributos próprios de Deus: transcendência, um caráter ou unidade pessoal.
O ateísmo relativo está associada com o monismo idealista (panteísmo,
panenteísmo, deísmo).
— [50]
[editar]Argumentos
lógicos
Epicuro é
creditado como sendo o primeiro a expor o problema do mal. David Hume, em seus
Diálogos sobre a Religião Natural (1779), citou Epicuro ao afirmar o argumento
como uma série de perguntas:[51] "[Deus] quer impedir o mal, mas não é
capaz? Então ele é impotente. Ele é capaz, mas não está disposto? Então, ele é
malévolo. Ele é capaz e disposto? Donde vem então o mal?"
Ver artigo
principal: Argumentos pela inexistência de Deus e Problema do mal
O ateísmo lógico
sustenta que às diversas concepções de deuses, como o deus pessoal do
cristianismo, são atribuídas qualidades logicamente inconsistentes. Os ateus
apresentam argumentos dedutivos contra a existência de Deus que afirmam a
incompatibilidade entre certas características, como a perfeição, estatuto de
criador, imutabilidade, onisciência, onipresença, onipotência, onibenevolência,
transcendência, a pessoalidade (um ser pessoal), não-fisicalidade, justiça e
misericórdia.[52]
Ateus teodiceanos
acreditam que o mundo como o experimentam não pode ser conciliado com as
qualidades normalmente atribuídas a Deus e aos deuses pelos teólogos. Eles
argumentam que um Deus onisciente, onipotente e onibenevolente não é compatível
com um mundo onde existe o mal e o sofrimento, e onde o amor divino está
escondido de muitas pessoas.[53] Um argumento semelhante é atribuído a
Siddhartha Gautama, o fundador do budismo.[54]
[editar]Redução
da importância da religião
Ver também:
Psicologia da religião
Filósofos como
Ludwig Feuerbach[55] e Sigmund Freud argumentaram que Deus e outras crenças
religiosas são invenções humanas, criadas para atender a várias necessidades
psicológicas e emocionais. Esta é também uma visão de muitos budistas.[56] Karl
Marx e Friedrich Engels, influenciados pela obra de Feuerbach, argumentaram que
a crença em Deus e na religião são funções sociais, utilizadas por aqueles no
poder para oprimir a classe trabalhadora. De acordo com Mikhail Bakunin,
"a ideia de Deus implica a abdicação da razão e da justiça humanas; é a
negação mais decisiva da liberdade humana, e, necessariamente, termina na
escravização da humanidade, na teoria e na prática." Ele inverteu o famoso
aforismo de Voltaire de que se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo, escrevendo
que "se Deus realmente existisse, seria necessário aboli-lo."[57]
[editar]Alternativos
Ver artigos
principais: Antropologia filosófica e Humanismo
O ateísmo
axiológico, ou construtivo, rejeita a existência de deuses em favor de um
"absoluto maior", como a humanidade. Esta forma de ateísmo favorece a
humanidade como fonte absoluta da ética e valores, e permite que os indivíduos
resolvam problemas morais, sem recorrerem a Deus. Marx e Freud utilizaram este
argumento para transmitir mensagens de libertação, de desenvolvimento integral
e de felicidade sem restrições.[45]
Uma das críticas
mais comuns ao ateísmo tem sido a tese contrária: que negar a existência de um
deus conduz ao relativismo moral, deixando o indivíduo sem fundamento moral ou
ético,[58] ou torna a vida sem sentido e miserável.[59] Blaise Pascal
argumentou esta visão nos seus Pensées.[60]
[editar]Existencialismo
ateísta
O filósofo
francês Jean-Paul Sartre identificou-se como um representante de um
"existencialismo ateísta",[61] menos preocupado com negar a
existência de Deus do que estabelecer que o "homem precisa... encontrar-se
novamente e entender que nada pode salvá-lo de si mesmo, nem mesmo uma prova
válida da existência de Deus.""[62] Sartre disse que um corolário de
seu ateísmo era que "se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a
existência precede a essência, um ser que existe antes que ele possa ser
definido por qualquer conceito, e ... este ser é o homem."[61] A
consequência prática desse ateísmo foi descrita por Sartre no sentido de que
não há regras a priori ou valores absolutos que podem ser invocados para
governar a conduta humana e que os humanos estão "condenados" a
inventar estes por si mesmos, tornando o "homem" absolutamente
"responsável por tudo que ele faz."[63]
O acadêmico
Rhiannon Goldthorpe sugeriu que alguns dos escritos de Sartre estavam
"permeados por um 'ateísmo cristão', no qual crenças antigas ainda
alimentam a imaginação e a sensibilidade do cético mais radical."[64] O
acadêmico Priest Stephen descreve a perspectiva de Sartre como "uma
metafísica ateísta."[65] O tradutor de Sartre, Hazel Barnes, escreveu
sobre aquele: "O Deus que ele rejeita não é um poder vago, um X
desconhecido que explicaria a origem do universo, nem tão pouco é um ideal ou
um mito para simbolizar a busca do homem pelo Bem. É especificamente o Deus dos
Escolásticos ou, pelo menos, qualquer ideia de Deus como um Criador específico,
todo-poderoso, absoluto e existente."[66]
[editar]História
Apesar do termo
ateísmo ter origem na França do século XVI,[67] ideias que seriam hoje
reconhecidas como ateístas estão documentadas desde a antiguidade clássica e o
período védico.
[editar]Antiga
religião hindu
Escolas ateístas
são encontradas no hinduísmo antigo, e existem desde o tempo da religião
védica. Entre as seis escolas ortodoxas da filosofia hindu; Sankhya, o mais
antigo sistema filosófico não aceita Deus e a antiga Mimamsa também rejeitava a
noção de Deus,[68] e sustentava que a própria ação humana era suficiente para
criar as circunstâncias necessárias à apreciação dos seus frutos.[69]
A completamente
materialista e antiteísta escola filosófica Carvaka que se originou na Índia em
torno do século VI a.C. é provavelmente a escola de filosofia mais
explicitamente ateísta da Índia, similar à escola cirenaica grega. Este ramo da
filosofia indiana é classificado como heterodoxo devido à sua rejeição da
autoridade dos Vedas e não é considerado parte das seis escolas ortodoxas do
hinduísmo, mas é notável como evidência de um movimento materialista dentro do hinduísmo.[70]
Chatterjee e Datta explicam que a nossa compreensão da filosofia Carvaka é
fragmentária, baseada principalmente na crítica das suas ideias por outras
escolas, e que não é uma tradição viva:
Apesar do materialismo de uma
forma ou de outra ter estado sempre presente na Índia, e referências ocasionais
sejam encontradas nos Vedas, na literatura budista, nos épicos, bem como nas
obras filosóficas posteriores, não encontramos nenhum trabalho sistemático
sobre o materialismo, nem qualquer escola organizada de seguidores como as
outras escolas filosóficas possuem. Mas quase todos os trabalhos das outras
escolas mencionam, para refutação, os pontos de vista materialistas. Nosso
conhecimento do materialismo indiano baseia-se sobretudo nesses trabalhos.
— Chatterjee e
Datta[71]
Outras filosofias
indianas geralmente consideradas como ateístas incluem sankhya clássica e mimāṃsā. A rejeição de um Deus criador pessoal
também é observada no jainismo e no budismo na Índia.[72]
[editar]Antiguidade
clássica
Na Apologia de
Platão, Sócrates (imagem) foi acusado por Meleto de não acreditar nos deuses.
O ateísmo
ocidental tem suas raízes na filosofia grega pré-socrática, mas não emerge como
uma visão do mundo distinta até o final do Iluminismo.[73] O filósofo grego do
século V a.C. Diágoras é conhecido como o "primeiro ateu"[74] e é
citado como tal por Cícero no seu De Natura Deorum.[75] Crítias via a religião
como uma invenção humana usada para assustar as pessoas e fazê-las seguir a
ordem moral.[76] Atomistas como Demócrito tentaram explicar o mundo de uma
forma puramente materialista, sem referência ao espiritual ou místico. Entre
outros filósofos pré-socráticos, que provavelmente tinham pontos de vista
ateístas, incluem-se Pródico e Protágoras. No século III a.C. os filósofos
gregos Teodoro, o Ateu[75][77] e Estratão de Lampsaco[78] também não
acreditavam que deuses existiam.
Sócrates (c.
471-399 a.C.) foi acusado de impiedade (ver Dilema de Eutífron) baseado no fato
de ele ter inspirado o questionamento dos deuses do Estado.[79] Embora ele
tenha contestado a acusação de que era um "ateu completo",[80]
dizendo que não podia ser um ateu, visto que acreditava em espíritos,[81]
acabaria por ser condenado à morte. Sócrates também reza a vários deuses no Fedro[82]
de Platão e diz "Por Zeus" no diálogo A República.[83]
Evêmero (c.
330-260 aC) publicou sua visão de que os deuses eram apenas os governantes,
conquistadores e fundadores do passado deificados, e que os seus cultos e
religiões eram, em essência, a continuação dos reinos que desapareceram e das
estruturas políticas anteriores.[84] Embora não fosse estritamente um ateu,
Evêmero mais tarde foi criticado por ter "espalhado o ateísmo por toda a
terra habitada ao obliterar os deuses."[85]
O atomista e
materialista Epicuro (c. 341-270 aC) disputou muitas doutrinas religiosas,
incluindo a existência de vida após a morte ou uma divindade pessoal; ele
considerava a alma puramente material e mortal. Embora o epicurismo não tenha
descartado a existência de deuses, ele acreditava que, se existissem, eles
estavam despreocupados com a humanidade.[86]
O poeta romano
Lucrécio (c. 99-55 aC), concordou que, se houvesse deuses, estavam
despreocupados com a humanidade e eram incapazes de afetar o mundo natural. Por
esta razão, ele acreditava que a humanidade não devia ter medo do sobrenatural.
Ele expõe seus pontos de vista epicuristas sobre o cosmos, átomos, alma,
mortalidade e religião em De rerum natura (em português: "Sobre a natureza
das coisas"),[87] que popularizou a filosofia de Epicuro em Roma.[88]
O filósofo romano
Sexto Empírico defendia que se deve suspender o julgamento sobre praticamente
todas as crenças - uma forma de ceticismo conhecida como pirronismo - que nada
era inerentemente mau e que a ataraxia ("paz de espírito") é
atingível se nos refrearmos de julgar. O volume relativamente grande de obras
suas que sobreviveram, teve uma influência duradoura sobre filósofos
posteriores.[89]
O significado do
termo "ateu" mudou ao longo da antiguidade clássica. Os primeiros
cristãos eram rotulados como ateus pelos não-cristãos por causa da sua
descrença nos deuses pagãos.[90] Durante o Império Romano, os cristãos foram
executados por sua rejeição aos deuses romanos em geral e ao culto imperial em
particular. Quando o cristianismo se tornou a religião estatal de Roma sob o
governo de Teodósio I em 381, a heresia tornou-se um delito punível.[91]
[editar]Início da
Idade Média ao Renascimento
A adoção de
pontos de vista ateístas era rara na Europa durante a Alta Idade Média e Idade
Média (ver Inquisição medieval); metafísica, religião e teologia eram os interesses
dominantes.[92] Houve, no entanto, movimentos deste período que promoveram
concepções heterodoxas do Deus cristão, incluindo pontos de vista diferentes
sobre a natureza, a transcendência e a cognoscibilidade de Deus. Indivíduos e
grupos, tais como João Escoto Erígena, David de Dinant, Amalarico de Bena e os
Irmãos do Livre Espírito mantinham pontos de vista cristãos, mas com tendências
panteístas. Nicolau de Cusa sustentava uma forma de fideísmo que chamou de
docta ignorantia ("ignorância aprendida"), afirmando que Deus está
além da categorização humana e que o nosso conhecimento de Deus é limitado à
conjectura. Guilherme de Ockham inspirou tendências anti-metafísicas com a sua
limitação nominalista do conhecimento humano para objetos singulares e afirmou
que a essência divina não poderia ser intuitivamente ou racionalmente
apreendida pelo intelecto humano. Seguidores de Ockham, tais como João de
Mirecourt e Nicolau de Autrecourt expandiram esta visão. A divisão resultante
entre a fé e a razão influenciou teólogos posteriores, como John Wycliffe, Jan
Hus e Martinho Lutero.[92]
A Renascença foi
muito importante na expansão do escopo da investigação cética e do
livre-pensamento. Indivíduos como Leonardo da Vinci procuraram a experimentação
como meio de explicação, e opuseram-se aos argumentos de autoridade religiosa.
Outros críticos da religião e da Igreja durante este tempo incluíram Nicolau
Maquiavel, Bonaventure des Périers e François Rabelais.[89]
[editar]Início do
período moderno
A Essência do
Cristianismo (1841), de Ludwig Feuerbach, seria de grande influência para
filósofos como Engels, Marx, David Strauss, Nietzsche e Max Stirner. Ele
considerava que Deus é uma invenção humana e que as atividades religiosas são
usadas para a realização de desejos. Por isso, ele é considerado o pai fundador
da moderna antropologia da religião.
As eras do
Renascimento e da Reforma testemunharam um ressurgimento do fervor religioso,
como evidenciado pela proliferação de novas ordens religiosas, confrarias e
devoções populares no mundo católico e o aparecimento de seitas protestantes
cada vez mais austeras, como os calvinistas. Esta era de rivalidade
interconfessional permitiu uma abrangência ainda maior de especulação teológica
e filosófica, muita da qual viria a ser usada para promover uma visão de mundo
religiosamente cética.
A crítica do
cristianismo tornou-se cada vez mais frequente nos séculos XVII e XVIII,
especialmente na França e na Inglaterra, onde parece ter existido um mal-estar
religioso, de acordo com fontes contemporâneas. Alguns pensadores protestantes,
como Thomas Hobbes, defendiam uma filosofia materialista e um ceticismo em
relação às ocorrências sobrenaturais, enquanto que o filósofo judeu holandês
Baruch Spinoza rejeitava a providência divina em favor de um naturalismo
panenteísta. No final do século XVII, o deísmo passou a ser abertamente
defendido por intelectuais como John Toland, que cunhou o termo
"panteísta". Apesar de ridicularizarem o cristianismo, muitos deístas
desprezavam o ateísmo. O primeiro ateu que se sabe ter jogado fora o manto do
deísmo, negando de modo contundente a existência de deuses, foi Jean Meslier,
um padre francês que viveu no início do século XVIII.[93] Ele foi seguido por
outros pensadores abertamente ateus, como o Barão d'Holbach e Jacques-André
Naigeon.[94] O filósofo David Hume desenvolveu uma epistemologia cética
fundamentada no empirismo, enfraquecendo a base metafísica da teologia natural.
A Revolução
Francesa tirou o ateísmo e o deísmo anticlerical dos salões e colocou-os na
esfera pública. Um dos principais objetivos da Revolução Francesa foi uma
reestruturação e subordinação do clero em relação ao Estado através da
Constituição Civil do Clero. As tentativas para aplicá-la levaram à violência
anticlerical e à expulsão de muitos clérigos da França. Os eventos políticos
caóticos da Paris revolucionária, acabaram por permitir aos jacobinos mais
radicais tomar o poder em 1793, inaugurando o Reino do Terror. Os jacobinos
eram deístas e introduziram o Culto do Ser Supremo como uma religião estatal da
França. Alguns ateus próximos de Jacques Hébert procuraram estabelecer um culto
da razão, uma forma de pseudo-religião ateia com uma deusa personificando a
razão. Ambos os movimentos, em parte, contribuíram para as tentativas forçadas
de descristianizar a França. O Culto da Razão terminou depois de três anos,
quando a sua liderança, incluindo Jacques Hébert, foi guilhotinada pelos
jacobinos. As perseguições anticlericais terminaram com a Reação Termidoriana.
A era napoleônica
institucionalizou a secularização da sociedade francesa e exportou a revolução
para o norte da Itália, na esperança de criar repúblicas flexíveis. No século
XIX, os ateus contribuíram para várias revoluções políticas e sociais,
facilitando os levantes de 1848, o Risorgimento na Itália e o crescimento de um
movimento socialista internacional.
Na segunda metade
do século XIX, o ateísmo ganhou proeminência sob a influência de filósofos
racionalistas e livre-pensadores. Muitos proeminentes filósofos alemães da
época negaram a existência de divindades e eram críticos da religião, incluindo
Ludwig Feuerbach, Arthur Schopenhauer, Max Stirner, Karl Marx e Friedrich
Nietzsche.[95]
[editar]Século XX
Ver também:
Estado ateu
O ateísmo no
século XX, particularmente na forma de ateísmo prático, avançou em muitas
sociedades. O pensamento ateu encontrou reconhecimento em uma ampla variedade
de outras filosofias mais amplas, como o existencialismo, o objetivismo, o
humanismo secular, o niilismo, o positivismo lógico, o anarquismo, o marxismo,
o feminismo[96] e o movimento científico e racionalista geral.
O positivismo
lógico e o cientificismo pavimentaram o caminho para o neopositivismo, a
filosofia analítica, o estruturalismo e o naturalismo. O neopositivismo e a
filosofia analítica descartaram o racionalismo clássico e a metafísica em favor
do empirismo estrito e do nominalismo epistemológico. Proponentes como Bertrand
Russell, rejeitaram enfaticamente a crença em Deus. Em seus primeiros
trabalhos, Ludwig Wittgenstein tentou separar a linguagem metafísica e
sobrenatural do discurso racional. A. J. Ayer afirmou a inverificabilidade e a
falta de sentido das afirmações religiosas, citando a sua adesão às ciências
empíricas. Relacionado com esta ideia, o estruturalismo aplicado de Lévi-Strauss
ligou a origem da linguagem religiosa ao subconsciente humano ao negar o seu
significado transcendental. J. N. Findlay e J. J. C. Smart argumentaram que a
existência de Deus não é logicamente necessária. Naturalistas e monistas
materialistas, tais como John Dewey, consideravam o mundo natural como a base
de tudo, negando a existência de Deus ou a imortalidade.[37][97]
Demolição da
Catedral de Cristo Salvador de Moscou, em 1931. A União Soviética era, desde
sua fundação, um Estado ateu.
O século XX também
assistiu ao avanço político do ateísmo, estimulado pela interpretação das obras
de Marx e Engels. Após a Revolução Russa de 1917, houve mais liberdade
religiosa para as minorias religiosas, o que durou alguns anos. Embora a
Constituição Soviética de 1936 garantisse a liberdade para realizar cultos, o
Estado soviético, sob a política de Estado ateu de Stalin, não considerava a
religião um assunto privado; o governo soviético ilegalizou o ensino religioso
e promoveu campanhas para convencer as pessoas a abandonar a
religião.[98][99][100][101][102] Diversos outros estados comunistas também se
opuseram à religião e promoveram o ateísmo estatal,[103] incluindo os antigos
governos socialistas da Albânia,[104][105][106] e, atualmente, da
China,[107][108] Coreia do Norte[108][109] e Cuba.[108][110]
Outros líderes
como E. V. Ramasami Naicker (Periyar), um proeminente líder ateu da Índia,
lutaram contra o hinduísmo e os brâmanes por eles discriminarem e dividirem as
pessoas em nome de castas e religião.[111] Tal foi sublinhado em 1956, quando
ele erigiu uma estátua representando um deus hindu em uma representação humilde
e fez declarações antiteístas.[112]
Em 1966, a
revista Time perguntava: "Deus está morto?",[113] em resposta ao
movimento teológico Morte de Deus, citando a estimativa de que quase metade de
todas as pessoas no mundo viviam sob um poder anti-religioso e milhões mais na
África, Ásia e América do Sul pareciam não ter conhecimento sobre o Deus
único.[114]
Em 1967, o
governo albanês de Enver Hoxha anunciou o fechamento de todas as instituições
religiosas no país, declarando a Albânia o primeiro estado oficialmente
ateu,[115] embora a prática religiosa na Albânia tenha sido restaurada em 1991.
Estes regimes acentuaram as associações negativas do ateísmo, especialmente
onde o sentimento anticomunista era forte, como nos Estados Unidos, apesar do
fato de que ateus proeminentes serem anticomunistas.[116]
[editar]Século
XXI
Ver artigo
principal: Novo ateísmo
Desde a queda do
Muro de Berlim, o número de regimes ativamente anti-religiosos tem diminuído
consideravelmente. Em 2006, Timothy Shah do Fórum Pew constatou "uma
tendência mundial em todos os grandes grupos religiosos, na qual movimentos
baseados em Deus e na fé, em geral, estão experimentando confiança e influência
crescentes face aos movimentos e ideologias seculares".[117] No entanto,
Gregory S. Paul e Phil Zuckerman consideram isso um mito e sugerem que a situação
real é muito mais complexa e matizada.[118]
A motivação
religiosa dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e as tentativas
parcialmente bem-sucedidas do Discovery Institute para mudar o currículo de
ciências das escolas estadunidenses para incluir ideias criacionistas,
juntamente com o apoio dessas ideias pelo ex-presidente George W. Bush em 2005,
desencadearam uma onda de publicações de conhecidos autores ateus como Sam
Harris, Daniel C. Dennett, Richard Dawkins, Victor J. Stenger e Christopher Hitchens,
cujas obras foram best-sellers nos Estados Unidos e em todo o mundo.[119]
Um levantamento
de 2010 descobriu que aqueles que se identificam como ateus ou agnósticos
estão, em média, mais bem informados sobre religião do que os seguidores das
religiões principais. Descrentes tiveram melhores pontuações respondendo a
questões sobre os princípios centrais das fés protestante e católica. Apenas
fiéis mórmons e judeus tiveram tão boas pontuações sobre religião quanto os
ateus e agnósticos.[120]
O Ateísmo 3.0 é
um movimento dentro do ateísmo que não acredita na existência de Deus, mas que
diz que a religião tem sido benéfica para os indivíduos e para a sociedade, e
que eliminá-la é menos importante do que outras coisas que precisam ser
feitas.[121][122]
[editar]Demografia
É difícil
quantificar o número de ateus no mundo. Institutos de pesquisas de crença
religiosa podem definir o "ateísmo" de várias maneiras diferentes ou
fazer diferentes distinções entre ateísmo, convicções não-religiosas e crenças
religiosas e espirituais não-teístas.[124] Por exemplo, um ateu hindu iria
declarar-se como hindu, apesar de também ser, ao mesmo tempo, ateu.[125] Um
estudo de 2005, publicado na Encyclopædia Britannica, revelou que os
não-religiosos representam cerca de 11,9% da população mundial e os ateus cerca
de 2,3%. Este número não inclui aqueles que seguem religiões ateias, como
alguns budistas.[16]
Uma enquete
realizada entre novembro e dezembro de 2006, publicada no Financial Times,
mostrou as taxas de população ateia nos Estados Unidos e em cinco países
europeus. As menores taxas de ateísmo estão nos Estados Unidos com apenas 4%;
as taxas de ateísmo nos países europeus pesquisados foram consideravelmente
mais altas: Itália (7%), Espanha (11%), Reino Unido (17%), Alemanha (20%) e
França (32%).[17][126] Os números europeus são semelhantes aos de uma pesquisa
oficial da União Europeia (UE), que relatou que 18% da população da UE não
acredita em um deus.[127] Outros estudos têm mostrado uma porcentagem estimada
de ateus, agnósticos e outros não-crentes em um deus pessoal de apenas um
dígito em países como Polônia, Romênia, Chipre e outros países europeus,[128] e
de até 85% na Suécia, 80% na Dinamarca, 72% na Noruega e 60% na Finlândia.[15]
Segundo o Australian Bureau of Statistics, 19% dos australianos declararam-se
como "sem religião", uma categoria que inclui os ateus.[126] Entre 64%
e 65% dos japoneses são ateus, agnósticos, ou não acreditam em um deus.[15]
Somente na Europa, nos últimos
100 anos, o ateísmo cresceu de aproximadamente 1,7 milhão para cerca de 130
milhões de pessoas.
— Centro de
Treinamento Cristão European Apologetics Network, de Londres [129]
Na América Latina
os índices de ateísmo variam de 1 a 3%, exceto em Cuba (7%), México (7%),
Argentina (8%) e Uruguai (12%).[130] No Uruguai, entre 30 e 50% da população
assume não ter religião.[130]
Mapa indicando a
porcentagem de ateus e agnósticos no mundo (2007).
Um estudo
internacional relatou correlações positivas entre os níveis de educação e os
índices de descrença em uma divindade,[131] enquanto uma pesquisa da União
Europeia encontrou uma correlação positiva entre o abandono escolar precoce e a
crença em um deus.[127] Uma carta publicada na revista Nature em 1998, relatou
uma pesquisa sugerindo que a crença em um deus pessoal ou na vida após a morte
alcançou o nível mais baixo de todos os tempos entre os membros da Academia
Nacional de Ciências dos Estados Unidos, sendo que apenas 7,0% dos membros
disseram acreditar em um deus pessoal, em forte contraste com os mais de 85% da
população geral dos Estados Unidos que acredita em um deus.[132] Em
contrapartida, um artigo publicado pela Universidade de Chicago que discutiu o
referido estudo, afirmou que 76% dos médicos estadunidenses acreditam em Deus,
mais do que os 7% dos cientistas acima, mas ainda inferior aos 85% da população
em geral.[133] No mesmo ano, Frank Sulloway, do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, e Michael Shermer, da Universidade do Estado da Califórnia,
conduziram um estudo que encontrou em sua amostra de pesquisa de
"credenciados" adultos dos Estados Unidos (12% doutorados e 62% eram
graduados universitários) 64% que acreditavam em Deus e houve uma correlação
indicando que a convicção religiosa diminuiu com o aumento do nível de
escolaridade.[134] Uma correlação inversa entre religiosidade e inteligência
foi encontrada por 39 estudos realizados entre 1927 e 2002, de acordo com um
artigo na Mensa International Magazine.[135] Estes resultados concordam em
geral com uma metanálise realizada em 1958 pelo professor Michael Argyle, da
Universidade de Oxford. Ele analisou sete estudos que investigaram a correlação
entre a atitude em relação à religião e o nível de inteligência entre os
estudantes do ensino médio e universitários dos Estados Unidos. Apesar de uma
clara correlação negativa ter sido encontrada, a análise não identificou
existência de causalidade, mas observou que fatores como histórico familiar
autoritário e classe social também poderiam desempenhar algum papel.[136]
[editar]Brasil
No Brasil, o
estado da Bahia é o terceiro com maior número de pessoas sem religião; o
primeiro é o Rio de Janeiro.[137] A capital bahiana, Salvador, tem a maior
porcentagem nacional de pessoas sem religião entre as capitais, 18% da
população.[137] No país todo, são mais numerosos entre os homens e entre os
habitantes com menos de 55 anos.[137] A cidade com o maior número de ateus é
Nova Ibiá, com 59,85% dos habitantes, de acordo com o censo de 2000 do
IBGE.[138] O segundo lugar fica com Pitimbu, na Paraíba, com 42, 44%.[138] De
acordo com dados do IBGE,[139] 7,4% (cerca de 12,5 milhões) da população
brasileira declarou-se "sem religião", podendo ser agnósticos, ateus
ou deístas.[140] Em 1991 essa porcentagem era de 4,7%.[140] Uma pesquisa
realizada pela empresa Ipsos a pedido da agência de notícias Reuters revelou
que 3% dos brasileiros entrevistados não acreditam em deuses ou seres
supremos.[141]
[editar]Ateísmo,
religião e moralidade
[editar]Associação
com visões de mundo e comportamentos sociais
O sociólogo Phil
Zuckerman analisou pesquisas anteriores em ciências sociais sobre laicidade e
não-crença e concluiu que o bem-estar social está positivamente correlacionado
com a irreligião. As suas descobertas relacionadas especificamente com o
ateísmo incluem:[131][142]
Em comparação com
pessoas religiosas, "ateus e pessoas laicas" são menos nacionalistas,
preconceituosas, antissemitas, racistas, dogmáticas, etnocêntricas, mentalmente
fechadas e autoritárias.
Nos Estados
Unidos, nos estados com os maiores percentuais de ateus na população, a taxa de
homicídios é menor do que a média. Na maioria dos estados religiosos dos Estados
Unidos, a taxa de homicídios é superior à média.
Ateísmo e
religião
Devido à
inexistência de um deus criador, o budismo é comumente descrito como
não-teísta.
Assume-se
frequentemente que pessoas que se auto-identificam como ateus são irreligiosas,
mas algumas seitas dentro das principais religiões, rejeitam a existência de
uma divindade criadora e pessoal.[143] Nos últimos anos, certas denominações
religiosas têm acumulado uma série de seguidores abertamente ateus, tais como o
judaísmo humanístico e ateísta[144][145] e ateus cristãos.[146][147][148]
O sentido mais
estrito do ateísmo positivo não implica quaisquer crenças específicas fora da
descrença em qualquer divindade, como tal, os ateus podem ter qualquer número
de crenças espirituais. Pela mesma razão, os ateus podem ter uma grande
variedade de crenças éticas, que vão desde o universalismo moral do humanismo,
que defende que um código moral deve ser aplicado consistentemente a todos os
seres humanos, ao niilismo moral, que sustenta que a moralidade não tem
sentido.[149]
[editar]Mandamento
divino vs. ética
Embora seja um
truísmo filosófico, encapsulado no Dilema de Eutífron de Platão, que o papel
dos deuses na diferenciação entre certo e errado ou é desnecessário ou
arbitrário, o argumento de que a moralidade tem que ser derivada de Deus e que
não pode existir sem um criador sábio tem sido uma característica persistente
de debate político, ainda que não tanto do filosófico.[150][151][152] Preceitos
morais, como "o assassinato é errado" são vistos como leis divinas,
requerendo um legislador ou juiz divino. No entanto, muitos ateus argumentam
que o tratamento legalista da moralidade envolve uma falsa analogia e que a
moralidade não depende de um legislador da mesma forma que as leis.[153] Outros
ateus, como Friedrich Nietzsche, discordaram desta opinião e declararam que a
moralidade "tem verdade apenas se Deus é a verdade, portanto fica em pé ou
cai de acordo com a fé em Deus."[154][155][156]
Existem sistemas
normativos éticos que não necessitam que os princípios e regras sejam
fornecidos por uma divindade. Alguns incluem ética da virtude, contrato social,
ética kantiana, utilitarismo e o objetivismo. Sam Harris propôs que a
prescrição moral (criar regras éticas) não é apenas uma questão a ser explorada
pela filosofia, mas que podemos praticar significativamente uma ciência da
moralidade. Um tal sistema científico deve, no entanto, responder ao criticismo
consubstanciado na falácia naturalista.[157]
Os filósofos
Susan Neiman[158] e Julian Baggini[159] (entre outros) afirmam que o
comportamento ético apenas devido ao mandato divino não é o comportamento ético
verdadeiro, mas apenas a obediência cega. Baggini argumenta que o ateísmo é uma
base superior para a ética, afirmando que uma base moral externa aos
imperativos religiosos é necessária para avaliar a moralidade dos próprios
imperativos - para ser capaz de discernir, por exemplo, que
"furtarás" é imoral, mesmo que a sua religião o instrua a fazer isso
- e que os ateus, portanto, têm a vantagem de estarem mais inclinados a fazer
tais avaliações.[160] O político e filósofo contemporâneo britânico Martin
Cohen ofereceu o exemplo historicamente mais revelador de injunções bíblicas em
favor da tortura e escravidão como evidência de que as injunções religiosas
seguem os costumes políticos e sociais, e não vice-versa, mas também observou
que a mesma tendência parece ser verdadeira para filósofos supostamente
imparciais e objetivos.[161] Cohen explana esse argumento com mais detalhes na
Filosofia Política de Platão a Mao, no caso do Alcorão que ele vê como tendo
tido um papel geralmente infeliz na preservação dos códigos sociais do início
do século VII por meio de mudanças na sociedade secular.[162]
[editar]Perigos
das religiões
Ver também:
Crítica da religião
Alguns ateus
proeminentes, tais como Bertrand Russell, Christopher Hitchens, Sam Harris e
Richard Dawkins, têm criticado as religiões, citando aspectos nocivos das práticas
e doutrinas religiosas.[163] Os ateus têm-se envolvido muitas vezes em debates
com defensores da religião, e os debates por vezes tratam a questão de saber se
as religiões oferecem um benefício líquido para os indivíduos e para a
sociedade.
Um argumento de
que as religiões podem ser prejudiciais, feito por ateus como Sam Harris, é que
a dependência das religiões ocidentais da autoridade de Deus presta-se ao
autoritarismo e ao dogmatismo.[164] Os ateus também citaram dados mostrando que
há uma correlação entre fundamentalismo religioso e religião extrínseca (quando
a religião é praticada porque serve a interesses ocultos)[165] e autoritarismo,
dogmatismo e preconceito.[166] Estes argumentos, combinados com eventos
históricos que são argumentos para demonstrar os perigos da religião, como as
Cruzadas, Inquisição, caça às bruxas e os ataques terroristas, têm sido usados
em resposta às reivindicações dos efeitos benéficos da crença na religião.[167]
Os crentes contra-argumentam que alguns regimes que defendem o ateísmo, como
foi a Rússia soviética, também foram culpados de assassinatos em
massa.[168][169]
[editar]Discriminação
e preconceito
Ver artigo
principal: Discriminação contra ateus
O ateísmo sempre
foi uma doutrina perseguida, clandestina e discriminada.[170] Durante a
cristianização do Império Romano, o ateísmo foi considerado crime terrível e
praticamente deixou de existir na história das ideias europeias.[171] Até o
século XIX, devido ao poder político-eclesiástico, o indivíduo que assumisse
oposição aos ensinamentos da Igreja seria recriminado pela sociedade e pelo
governo com acusações de desonestidade, rebeldia, incredulidade e
libertinagem.[172]
Uma pesquisa
feita pelo Instituto Gallup em 1999 comprova que 95% dos estadunidenses votaria
em uma mulher para presidente, 92% votaria em um judeu ou negro, 79% em um
homossexual mas apenas 49% votaria em um ateu.[140] A revista Newsweek estima
uma porcentagem ainda menor: 37%[173] Uma pesquisa de 2007 encomendada pela
CNT/Sensus revela que 84% dos brasileiros votariam em um negro para Presidente
da República, 57% em uma mulher, 32% em um homossexual mas apenas 13% votaria
em um ateu. [174][175] Uma pesquisa de agosto de 2010 realizada pelo Núcleo de
Opinião Pública em uma iniciativa da Fundação Perseu Abramo (FPA) e SESC
revelou que 66% das mulheres brasileiras jamais votariam em um ateu e 11%
dificilmente votaria, enquanto 61% dos homens brasileiros nunca votaria e 13%
dificilmente votaria.[176]
[editar]Visibilidade
Os quatro
cartazes que serão divulgados na versão brasileira da Atheist Bus Campaign.
Conforme a
Associação Americana de Livreiros, em 2005 as obras da categoria "céticos
e ateus" registraram o maior crescimento da história até então e o segundo
maior entre os demais gêneros.[177] A revista mensal com a quinta maior tiragem
dos Estados Unidos, entre as especializadas, é uma publicada pela Sociedade dos
Céticos.[177] Na Fox News, o programa Bullshit! dissemina o ateísmo e a dupla
de mágicos Penn Jillette e Raymond Joseph Teller desmascara truques
místicos.[177]
[editar]Ateus
famosos
Ver páginas anexas: Lista de não teístas e
Lista de ateus
[editar]Associações
lusófonas
Associação
Ateísta Portuguesa
Associação
Brasileira de Ateus e Agnósticos
Fonte: Wikipédia
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