A justiça começa em casa! Cresci ouvindo isso dos lábios de meu
pai. Nossa família deveria ser modelo para as demais famílias da igreja.
Ser filho de pastor não era apenas um privilégio, mas uma
responsabilidade. Deus tem interesse de que a justiça do Seu reino seja
implantada neste mundo,e que Sua vontade seja feita aqui na terra como
no céu. Porém, há um caminho que esta justiça tem que percorrer até que o
mundo seja inteiramente tomado por ela. Este caminho tem vários
estágios, e os primeiros deles passam pela família.
Resumindo, a justiça começa sua jornada em casa, nos relacionamentos familiares, depois adentra a igreja, e desta para as nações.
Usando a metáfora bíblica, a justiça é como um rio, cuja nascente é o coração de Deus, que jorra inicialmente no coração do homem que se torna nova criatura, afetando todos os seus relacionamentos, a começar pelos familiares. “Corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão como ribeiro perene” (Amós 5:24). À medida em que este rio avança, sua calha fica mais profunda e larga (Ez.47).
Usando a metáfora bíblica, a justiça é como um rio, cuja nascente é o coração de Deus, que jorra inicialmente no coração do homem que se torna nova criatura, afetando todos os seus relacionamentos, a começar pelos familiares. “Corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão como ribeiro perene” (Amós 5:24). À medida em que este rio avança, sua calha fica mais profunda e larga (Ez.47).
Se quisermos compreender a trajetória da justiça do Reino na História,
até o seu estabelecimento pleno, basta investigarmos a trajetória feita
pelo sol. O astro rei nasce no Oriente, discretamente, e aos poucos,
seus raios vão dissipando as trevas, até que seja dia perfeito. Deus Se
compromete através dos lábios de Malaquias: “Desde o nascente do sol até o poente o meu nome será grande entre as nações”
(Ml.1:11a). Não significa que o sol da justiça irá se pôr um dia, mas
que a justiça de Deus abarcará toda a extensão da terra, do Oriente ao
Ocidente. Cristo é o Sol da Justiça, e veio ao mundo discretamente,
nascendo num lar pobre do Oriente Médio.
É no contexto familiar que a justiça encontra seu berço. Toda a
injustiça prevalecente no mundo, e que tanto nos enoja, parte do
ambiente doméstico. É ali que ela é engendrada.
O político corrupto, o traficante sanguinário, o empresário ganancioso,
são todos frutos da mesma árvore. Se não estancarmos esta hemorragia
moral e ética, a sociedade humana perderá totalmente seu brio.
Jamais lograremos mudar as instituições, se não começarmos esta mudança pela mãe de todas elas, a família.
Poderíamos localizar com mais precisão o lugar de onde ela deveria
jorrar? Em que lugar da casa a justiça deveria ter seu ponto de
partida? Eu diria, sem medo errar: a justiça começa na cama. Antes de
justificar o que acabo de afirmar, permita-me uma rápida digressão.
O que é justiça, afinal? Qual o conceito bíblico de justiça? Justiça é
dar a cada um o que lhe é de direito. Paulo nos apresenta este conceito
na passagem em que fala de nossa relação com as autoridades
constituídas:
“Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra” (Rm.13:7).
Quando se fala de tributos e impostos, o foco recai em nossa relação com
o Estado. Sonegar equivaleria a privar o Estado de algo que lhe é de
direito. Portanto, trata-se de uma injustiça. Quando se fala de temor, o
escopo é mais abrangente, e se estende à nossa relação com Deus. Deixar
de temê-lO também é um ato de injustiça.
“Grandes e maravilhosas são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não te temerá, ó Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo. Todas as nações virão, e se prostrarão diante de ti, pois os teus juízos são manifestos” (Ap.15:3b-4).
Quando a justiça de Deus encher toda a terra, todo homem O temerá, todo
joelho se dobrará e toda língua confessará Sua soberania. Ele finalmente
será temido em todas as nações.
“Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula, pois aos devassos e adúlteros Deus os julgará” (Hb.13:4).
O tradutor usa a palavra “leito”, que é sinônimo de “cama”; talvez por
ser uma palavra mais elegante. Porém, o texto original usa o vocábulo
grego “koité”, de onde vem a palavra “coito”. Portanto, tanto o matrimônio quanto o coito (o ato sexual em si) devem ser igualmente honrados.
É aí que começa o percurso da justiça no mundo, até alcançar as nações. Parece bobagem? Mas não é!
Nossa sociedade tem transformado o sexo numa coisa suja, banalizando-o,
coisificando-o. Rita Lee retrata isso em uma de suas composições, em que
diz que o amor é cristão, mas o sexo é pagão.
“O marido pague à mulher o que lhe é devido, e da mesma sorte a mulher ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido. Do mesmo modo o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos defraudeis um ao outra, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes à oração. Depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência” (1 Co.7:3-5).
Pode parecer que Paulo esteja sendo rude. Como reduzir a relação sexual a
um pagamento? Porém, não é esta a intenção do apóstolo. Ele está
pensando em termos de justiça, o que implica em deveres e direitos.
Não me venha com essa de que Paulo era machista. Tanto o homem quanto a
mulher tem os mesmos direitos e deveres. O corpo do homem já não lhe
pertence mais. Tão-pouco o corpo da mulher.
Imaginemos a cama como um altar. Ela não apenas tem a forma de
uma altar (lugar alto, acima do nível do chão, em formato retangular),
como também o que ali é feito (além de dormir, é claro…) tem o caráter
de oferta.
Assim como devemos oferecer nossos corpos em sacrifício santo e
agradável a Deus (Rm.12:1), devemos também oferecer nossos corpos em
oferta de amor ao nosso cônjuge.
Nosso corpo é um direito que nosso cônjuge tem. Nosso dever é mantê-lo
disponível. E isso vale para os dois. Privar o outro disso equivale a
defraudar, isto é, cometer uma injustiça. A única excessão à regra é
quando um dos cônjuges pretende dedicar-se por um tempo à oração. Mesmo
assim, tem que ter o aval do outro. E tão logo termine o período de
oração, devem disponibilizar-se mutuamente. E isso, segundo Paulo, para
que Satanás não se aproveite de nossa fraqueza.
Engana-se quem pensa que Paulo legislou em causa própria, pois sequer era casado. Muito antes dele, o sábio Salomão escreveu:
“Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de vida da tua vaidade, os quais Deus te deu debaixo do sol, todos os dias da tua vaidade. Porque esta é a tua porção nesta vida, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol” (Ec.9:9).
Nossa porção está nas mãos de quem amamos. Ninguém tem o direito de
reter a porção pertencente ao outro. E se possível (caso haja disposição
pra isso), todos os dias de sua vaidade. rs
Claro que ninguém é de ferro. Porém, o casal deve buscar manter certa
sincronia, em que o desejo de um coincida com o desejo do outro. Isso
será conquistado à medida que estreitarem sua comunhão e
intimidade. Quanto mais conhecemos a pessoa amada, mais nos adequamos a
ela.
Uma vida sexual descompensada nos afeta em todas as áreas, inclusive nosso relacionamento com Deus e com os demais.
“Igualmente, vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações” (1 Pe.3:7).
Deus Se recusa a ouvir e atender a oração de maridos que abusem da
fragilidade de suas esposas. Não há maior castigo do que este. Em
matéria de sexo, a mulher é a parte mais frágil e vulnerável. Portanto,
cabe a ela a honra de estabelecer quais são os limites a serem
respeitados pelo marido.
Nesta questão, a mulher deve ter primazia. Este princípio pode ser
observado em outra passagem, em que Paulo fala do relacionamento entre
os membros do Corpo de Cristo: “Antes, os membros do corpo que
parecem ser mais fracos, são necessários, e os que nos parecem menos
honrosos no corpo, a esses honramos muito mais…” (1 Co.12:22-23a).
Se alguém me pergunta o que vale e o que não vale entre quatro paredes,
minha resposta é: pergunte à sua mulher. O problema é que muitos não
sabem respeitar e honra seus próprios corpos, como poderão respeitar e
honrar o corpo de seu cônjuge?
“Que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra; não no desejo da lascívia, como os gentios, que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria, ninguém oprima ou engane a seu irmão. O Senhor é vingador de todas estas coisas, como também antes vo-lo dissemos e testificamos” (1 Ts.4:4-6).
Ninguém tem o direito de transformar o sexo numa arma para dominar o
outro a seu bel-prazer. Nem usá-lo como chantagem para tirar do outro o
que quiser.
É lógico que entre o casal deve haver desejo, cumplicidade, ou como
diriam alguns, tesão. O que Paulo chama de lascívia é o que hoje
chamaríamos de tara, perversão. Nossas fantasias sexuais devem manter-se
no terreno da sanidade.
O homem tem que entender que sua mulher, além de mãe dos seus filhos, é
herdeira da mesma graça da vida. Não é um objeto, uma atriz pornô ou uma
garota de programa. Por isso, seus escrúpulos têm que ser considerados,
e seus limites respeitados.
Só pode haver uma entrega total onde haja confiança total. Parafraseando
o salmista, “entregue seu corpo ao seu cônjuge, confia nele, e o mais
ele fará…” Porém, confiança se conquista com o tempo. Mulheres que
sofreram abusos de seus maridos, terão dificuldade em voltar a confiar.
Estarão sempre com um pé atrás.
A mulher necessita sentir-se amada, e não usada. Já o homem necessita
sentir-se desejado, e não apenas estimado. Se ambos compreenderem os
desejos e os limites do outro, tudo fluirá sem dificuldade.
Em vez de encarar a relação sexual apenas como um dever, que tal
encará-la como um direito a ser usufruído e compartilhado com quem se
ama?
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