“Arrependei-vos e crede no evangelho!” Eis o brado de guerra celeste
contra o pecado em suas múltiplas manifestações, brado este que se ouviu desde
o principio do mundo, pregado e vivido por todas as testemunhas de Deus. Desde
o patriarca Noé, o oitavo pregoeiro da justiça, até os nossos dias, o tema
principal de todas as pregações evangélicas tem sido: “Arrependei-vos e crede!”
O arrependimento é, por excelência, a doutrina fundamental do cristianismo. E
sua importância fundamental repousa no fato indiscutível de que só há duas
classes de criaturas que se salvam: as criancinhas, antes da consciência de
pecado, porque das tais é o reino dos céus e as que se arrependem e crêem. Foi,
principalmente, dando toda ênfase a esta doutrina, que o cristianismo começou.
João Batista, o precursor de Jesus, que veio aplanar o caminho, como a voz que
clama no deserto, teve o arrependimento como o tema fundamental de suas
pregações preparatórias para o reino de Deus. “Arrependei-vos, porque é chegado
o reino dos céus”. Nosso Senhor Jesus Cristo, o rei Eterno, nosso Bendito e
Eterno Salvador, inicia seu ministério apregoando a mesma doutrina. “Ora,
depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galiléia pregando o evangelho
de Deus e dizendo:
O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus, Arrependei-vos, e
crede no evangelho” Mc. 1:14, 15. Os enviados de Jesus, principalmente seus
apóstolos, seguiram no mesmo trilho dos profetas, do Precursor e de Jesus.
Pregaram o arrependimento como condição absolutamente indispensável para se
entrar no reino de Deus. O apostolo Paulo disse aos Anciãos de Éfeso, quando se
separou deles, pela última vez, que a substancia de tudo o que lhes havia
ensinado era conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo. “Vós bem
sabeis como tenho me portado entre vós… como não me esquivei de vos anunciar
coisa alguma que útil seja, ensinando-vos publicamente e de casa em casa,
testificando, tanto a Judeus como a Gregos, o arrependimento para com Deus e a
fé em nosso Senhor Jesus Cristo” Atos 20: 18a, 20 e 21. O seu ensino fundava-se
no melhor dos precedentes, no exemplo que lhe havia dado o cabeça da Igreja. O
arrependimento e a fé eram os pontos mais altos do ministério de Jesus; e o
arrependimento e a fé tem de ser os pontos principais em volta de que deve
girar o ensino de todos os pregadores fiéis. João Batista percebeu tanto a
importância desta doutrina que, preocupado na preparação do povo para receber a
Jesus, e, naturalmente por inspiração Divina, gritou, clamou aos ouvidos dos
fariseus e saduceus que vinham ao seu batismo: “Raça de víboras! Quem vos disse
que havíeis de escapar à ira que vos está ameaçando? Produzi, pois, frutos
dignos de arrependimento, e não digais: Temos a Abraão por pai; porque eu vos
digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” Mat. 3:7-9.
I- Uma análise do
estado espiritual das pessoas
Outrora, quando Jesus iniciou seu ministério, havia muita religiosidade
em Israel. Inúmeros eram os sacrifícios, os holocautos, as oferendas que se
ofereciam como contribuição espiritual para se expiar o pecado. Fariseus,
Saduceus e escribas, muitíssimos religiosos de todas as cores e aspectos
multiplicavam-se em zelos e observância do seu mais rigoroso ritualismo! Eram
os rabinos, os mestres de Israel, que se assentavam na cadeira de Moisés, que
se julgavam cumpridores da lei e seus fiéis interpretes, a atrair as pessoas
com seus ensinos. Os sacerdotes eram os intercessores ou intermediários junto a
Deus, para lhes oferecer o sacrifício do povo! Eram os cultuadores, que não
hesitavam em fazer longas orações pelos cantos das ruas, para serem vistos dos
homens. Eram almas aparentemente caridosas, que fartamente estendiam suas mãos
para esmolar o pobre, e que, conservando nas sinagogas, sempre acesa uma luz,
noite e dia, desta forma supunham ter a luz da vida eterna em suas almas. As
sinagogas Judaicas viviam, noite e dia, cheias de fiéis, de ofertantes, de
religiosos. A lei, via de regra era lida, nas reuniões, de pé, com o máximo de
respeito e reverencia. No entanto, o verdadeiro estado espiritual daquele povo,
incluindo seus próprios guias religiosos, salvo raríssimas exceções, foi
apontado por Jesus: “Bem profetizou de vós Isaias escrevendo: Pois que este
povo se aproxima de mim e com a boca e com os lábios me honra; mas tem afastado
para longe de mim o coração; e o seu temor para comigo consiste em mandamentos
de homens, aprendidos de cor; portanto, eis que continuarei a fazer uma obra
maravilhosa com este povo; sim, uma obra maravilhosa e um assombro; e a
sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus entendidos se
esconderá” Isaias 29:13, 14 e Marcos 7:6, 7. E ai, se aquela religiosidade toda
valesse alguma coisa, não haveria necessidade da revolução espiritual
processada e pregada por Jesus e seus fiéis apóstolos e discípulos. E como os
daquele tempo, assim é a grande maioria dos religiosos de hoje. Penetre-se lá
no fundo de seus corações, examine-se, à luz do sol os seus sentimentos
religiosos, observe-se os passos de sua vida e de sua conduta e verificar-se-á
que a grande maioria apenas ostenta religião, segue um formalismo e nada mais.
Rui Barbosa escreveu sobre a degradação da religião: “Percorrei toda a Europa;
contemplai toda a América; estudai o Brasil; e da piedade cristã não achareis
nada. Por toda essa área imensa encontrareis o joio do fanatismo, da beateira,
do farisaísmo religioso. A verdadeira piedade, a flor celeste da caridade
cristã, definhou, perdeu-se, no meio da semente maldita. Apenas nas regiões
mais altas, como deritos fósseis de um mundo exausto e granitificado, estende a
incredulidade a sua superfície árida e nua. É debaixo dessa superstição que
dormem os vulcões enextinguíveis, as revoluções sinistras do servilismo, da
intolerância ou da corrupção. Por cima o solo talado e inerte. Por baixo a
chama sanguinolenta dos maus instintos populares, as conjurações do ódio, da
superstição e da rapina” (Jorge Lira 1951). Assim foi descrita a mais de 50
anos a religiosidade da nação mais católica do mundo. Jesus já os havia
condenado quando disse: “Tem a aparência da piedade, mas negam a eficácia
dela”.
II- Daí a necessidade
de arrependimento
Isaias, em seu discurso, grande discurso dirigido à nação de Israel,
mostra de uma maneira veemente a necessidade do arrependimento, que importa no
abandono do caminho do mal e na prática resoluta do bem. Isaias 1:10-18 e
29:13,14. Seja qual for a religião abraçada, todos precisam saber que não
valerá de coisa alguma, sem o arrependimento. Sem valor serão os vossos
sacrifícios, de nada vale a caridade, inúteis serão as vossas suplicas,
desagradáveis as vossas orações, sem valor o vosso culto, porque os vossos
feitos me enojam, diz o Senhor. De que vale a vossa devoção sem a regeneração?
De que vale viver com os joelhos calejados, rezando pelas Igrejas, se falta nas
ações o bom perfume de Cristo. Acaso o Senhor não olha para o coração? Nenhum
movimento religioso tem qualquer valor se não levar as almas aos pés de Jesus,
contritas e arrependidas sinceramente de seus pecados. Num momento como este,
de tanta hipocrisia religiosa, somos obrigados a bradar como o profeta,
cumprindo nosso ministério e exteriorizando nossa revolta contra o mal, e o
caminho que toma a pregação. INÚTIL! Os vossos feitos me enojam! Arrependei-vos
e crede no evangelho. Mat. 23:28. Jesus foi tão enérgico na exortação dos
falsos religiosos, que os comparou a sepulcros caiados, em cujo interior há
miasmas que pastam na podridão. Os comparou com cadáveres em processo de
putrefação. Que coisa horrível. Será que na Igreja de Cristo há desses
cadáveres? Se há, precisam ser retirados imediatamente porque a Igreja de
Cristo não é cemitério para ter sepulcros caiados. A necessidade de
arrependimento surge de uma ligeira meditação do estado da natureza humana.
Todos, por natureza, nascemos em pecado e por isso todos necessitamos
arrepender-nos, converter-nos e nascer de novo para entrarmos no reino de Deus.
Todos somos por natureza culpados e estamos condenados perante Deus; e para
salvar-nos temos que recorrer à esperança que nos apresenta o evangelho e crer
nele. Todos nós, embora arrependidos, necessitamos aumentar, dia a dia, a nossa
repulsa pelo mal; e embora crentes, necessitamos constantemente de exortações
para o aumento da nossa fé. Rom. 12:1, 2.
III- A natureza e
tipos de arrependimento
A palavra grega “Metanoia” significa mudança radical de mente e de
coração. Paulo chama esse arrependimento de tristeza segundo Deus “Porque a
tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, o qual não traz
pesar;” II Cor. 7:10a . Não é remorso, que é temor das conseqüências do mal
praticado. Não é o que muitos crentes pensam: Ir a Igreja assiduamente não
basta, nem orar, nem contribuir. Tudo isso pode-se fazer e todavia, conservar o
coração longe de Deus e apegado ao mundo e às suas influencias maléficas. E
para concluir é necessário que apresentemos alguns exemplos de pecadores que
sinceramente se arrependeram. 1- Pedro, o apóstolo e porta voz do colégio
apostólico, que negou o Mestre covardemente, diante de uma mulher e depois
diante de mais duas pessoas. Foi o suficiente, contudo, o olhar repreensivo de
Jesus lá da janela do sumo sacerdote, e o cantar do galo para ele sair dali
profundamente amargurado, e chorar desesperadamente o seu pecado. E a tradição
diz que, todas as vezes que Pedro ouvia o cantar do galo, chorava, relembrando
sua tão grande falta de haver negado seu maior amigo. E que ele de fato se
arrependeu, podemos testificar em sua atitude diante da grande multidão de
inimigos, dizendo “Vós matastes o Príncipe da Vida, a quem Deus ressuscitou
dentre os mortos, de que nós somos testemunhas!” Luc 22:54-62. e Atos 3:14, 15.
2- O ladrão na cruz. “Senhor, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”,
foram suas palavras, e, como prova de que de fato estava sinceramente
arrependido, repreendeu seu companheiro que estava blasfemando, e não
reconhecia seu pecado. Lucas 23: 40-43. 3- Zaqueu, o publicano que, ao se
aproximar Jesus sobe a uma árvore para vê-lo, e o Divino Mestre, na sua entrada
em Jericó de longe o avista e, como lê tudo o que passa no coração, aproxima-se
onde estava aquele pecador arrependido e diz-lhe: “Zaqueu, desce depressa,
porque hoje me convem pousar em tua casa”. E logo o recebeu e confessou suas
faltas e ao mesmo tempo tratou de repara-las. E daí a razão porque Jesus disse;
“Hoje veio salvação nesta casa” Lucas 19: 1-10. 4- Paulo de Tarso, cuja vida e
obras dispensam comentários, visto ser bem conhecido este vulto extraordinário
do cristianismo. Antes, era um perseguidor, mas, depois de seu encontro com
Jesus na estrada de Damasco, um grande pregador do evangelho. De perseguidor
tornara-se perseguido, porque se arrependera de seus pecados.
Conclusão
“Arrependei-vos e crede no evangelho” Será sempre a grande mensagem que
o mundo há de ouvir. Mas será que estamos sinceramente arrependidos dos nossos
pecados? Temos reconhecido e abandonado nossos pecados? Temos confiado em
Cristo e crido nEle? Podemos conseguir o céu sem o saber, sem riquezas, sem
saúde, sem glórias mundanas, e até sem mesmo estarmos ligados a qualquer
Igreja, mas nunca sem o arrependimento. Se morrermos na impiedade jamais
alcançaremos o céu. Para nos salvarmos é indispensável um novo coração e fé
verdadeira em Jesus. O fato de ser alguém religioso, rezador, comedor de
hóstia, ou de receber a absolvição sacerdotal, a ninguém salva. Só se salvarão
aqueles que se arrependerem de seus pecados e crerem em Jesus Cristo o filho
eterno de Deus. “Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino
dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está no céu” Mat. 7:21.
Autor: Pr. Cirino Refosco
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